O Observatório Nacional (ON), baseado no Rio de Janeiro, completou 180 anos no dia 15 de outubro. Responsável pelo registro da hora oficial brasileira e, também, pela transição para o horário de verão o ON tem, na Hora do Brasil, sua primeira fonte de receita própria, graças à importância da hora oficial para transações digitais. O observatório acaba de ter aprovado um projeto na Finep de R$ 2 milhões para compra de novos equipamentos para manter a precisão da hora certa.
Em 2009, o Rio de Janeiro sediará a reunião bienal da União Astronômica Internacional (IAU). Será a primeira vez que o encontro ocorre fora dos EUA ou da Europa. Em sua última edição, a assembléia da IAU decidiu que Plutão não seria mais um planeta, e criou a categoria de planeta anão.
O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão conta a história da instituição.
Em 27 de setembro de 1827, a Assembléia-Geral Legislativa do Império autorizou a criação de um observatório, subordinado ao Ministério do Império, cujas normas fossem determinadas pelos professores da Academia Militar e da Marinha. Um decreto de Dom Pedro I, em 15 de outubro, determinou que o Visconde de São Leopoldo, Ministro do Império, iniciasse as atividades de criação do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, “no lugar que se julgar mais apropriado”.
A nova instituição deveria orientar os estudos geográficos, geodésicos e astronômicos do território nacional e, também, atender às necessidades da navegação. Este ato de criação é, na realidade, a legalização do Observatório Astronômico, que existiu desde 1780, no Morro do Castelo, onde o astrônomo português Bento Sanches da Orta (1739-1825), já havia realizado observações astronômicas e meteorológicas, publicadas nas “Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa”, em 1797. O principal instrumento deste observatório -- um quarto de círculo Sisson -- encontra-se atualmente em exposição no Museu de Astronomia e Ciências Afins.
Como o Observatório de Paris, o nosso também funcionou inicialmente sem um diretor. Foi o professor de matemática da Escola Militar, Pedro de Alcântara Bellegarde (1807-1864) quem ficou encarregado do observatório, no torreão da Escola Militar. Em 1843, Bellegarde determinou a posição do cometa 1843I em relação à estrela Aldebarã, com o auxílio do quarto de círculo Sisson. Mais tarde, em 1845, Jerônimo Francisco Coelho, Ministro da Guerra, nomeou para diretor do Observatório o francês Eugênio Fernando Soulier de Sauve (? - 1850).
Pelo decreto nº 457, de 22 de julho de 1846, criou-se o Imperial Observatório do Rio de Janeiro, com os objetivos de "fazer todas as observações astronômicas e meteorológicas úteis às ciências, em geral, e ao Brasil, em particular, publicar anualmente uma efeméride e formar os alunos da Escola Militar". Os primeiros instrumentos foram cedidos pelo próprio Imperador D. Pedro II, como consta do prefácio das “Ephemérides para o ano de 1853”, e que possuía no Palácio da Quinta da Boa Vista um observatório – “o primeiro de São Cristóvão”. Em 1850, com o falecimento de Soulier de Sauve, assume a direção Antonio Manuel de Mello (1802-1866). Foi o responsável pela criação e edição dos “Anais Meteorológicos” e das “Efemérides do Imperial Observatório Astronômico” do Imperial Observatório.
Em 1870, o francês Emmanuel Liais (1826-1900), convidado para dirigir o Imperial Observatório, só aceitou o cargo após ter sido o Observatório desligado da Escola Militar. Em 1871, o médico Camilo Maria Ferreira Armond (1815-1882), Visconde de Prados, assume a direção do Observatório, por ocasião da viagem de Liais à França. Nesta administração, dois astrônomos são enviados à França para se aperfeiçoarem. Três anos mais tarde, Liais volta da Europa com diversos novos equipamentos, dentre eles uma luneta Dollond de 25 cm que, ao lado da meridiana de mesma marca, destinada à determinação da hora, seriam os mais importantes instrumentos instalados no Observatório até 1920, apesar de terem sido adquiridos vários outros que permaneceram guardados.
Foi por ocasião da passagem de Vênus pelo disco do Sol, em 1882, quando diversas críticas foram feitas no Parlamento à organização do Observatório, que ocorreu a sua institucionalização. Neste trabalho, coube ao astrônomo belga Luis Cruls (1848-1908), que ocupou a direção em 1886, um importante papel. Além das pesquisas astronômicas, editou os “Anais do Imperial Observatório”, a “Revista do Observatório” e o “Anuário” (única publicação periódica que se edita até hoje). Toda esta atividade científica foi efetuada num prédio pouco sólido. Desde 1871, Emmanuel Liais havia solicitado ao governo a transferência do Observatório para um local mais conveniente aos fins a que se destinava.
No entanto, apesar do interesse de D. Pedro II pela astronomia, o Imperial Observatório lá ficou instalado. Em 1886, Luís Cruls reiterou o pedido, conseguido dois anos mais tarde, que o Parlamento votasse uma verba que permitiu, um ano depois, o início da construção do novo Observatório na fazenda Santa Cruz. Vários instrumentos foram encomendados: uma equatorial astrofotográfica, doação particular do Imperador D. Pedro II (destinada ao mapeamento fotográfico da região do céu que coube ao nosso país), bem como a equatorial Cooke e um grande círculo meridiano Gauthier.
Com a proclamação da República, o Observatório passou para o Ministério da Guerra, quando então a idéia da sua mudança para o local escolhido foi posta à margem. Ocorreu a reforma Benjamim Constant. Créditos novos foram concedidos para a transferência. Os anos se passaram sem que a comissão especial constituída para a escolha do terreno se decidisse. Tanto tempo foi gasto que a verba caducou e não foi mais renovada. Em conseqüência, a equatorial Cooke e a equatorial da Carta do Céu não foram montadas. Como o tubo deste último instrumento era de madeira, acabou destruído pelo cupim e pela chuva que penetrava no galpão (a parte do levantamento da Carta do Céu foi, mais tarde, executada pelos astrônomos argentinos e australianos). A equatorial Cooke quase foi destruída pela ferrugem. Escapou o círculo meridiano Gauthier, instalado provisoriamente numa casa de madeira, tão pequena que era impossível utilizá-lo.
Assim, no morro do Castelo a área era tão limitada que foi impossível aproveitar os novos instrumentos. De fato, por ocasião da passagem do Cometa de Halley, as observações foram efetuadas com o instrumento parado, pois o acompanhamento não funcionava. A necessidade de transferir o Observatório do morro do Castelo para o novo local deu origem a uma comissão que, depois de estudar diversos locais da cidade, escolheu o morro de São Januário, em São Cristóvão. Em 11 de agosto de 1911, o Decreto nº 8.900 desapropriou os terrenos compreendidos entre as ruas General Bruce, General Argolo, Viana (atual General José Cristina) e senador Alencar, a fim de neles ser instalado o Observatório.
Em 1920, terminou a construção do prédio principal do Observatório Nacional, em São Januário, após uma série de contratempos. O projeto arquitetônico é de autoria do astrônomo Mário Rodrigues de Souza (1889-1973) e foi executado pelo engenheiro João Mattos Travassos. A transferência oficial deu-se em 6 de fevereiro de 1921. Para essas novas instalações, foi adquirido o mais moderno instrumental, que se compõe de uma poderosa luneta equatorial Cooke, de 46cm de abertura, onde estão acopladas duas câmaras astrofotográficas Taylor, de 25cm de diâmetro. Em 1929, o astrônomo Alix Corrêa de Lemos (1877-1957), substituto interino de Morize, iniciou um ousado projeto de construção de um observatório astrométrico e astrofísico -- grande sonho de Morize --, que deveria ser instalado fora da cidade do Rio de Janeiro, tendo em vista as condições já na época desfavoráveis para observações mais apuradas.
Em 1937, chegou a ser redigido o contrato com a firma alemã Carl Zeiss para que fosse encomendado um telescópio de 1,68 metro, um astrógrafo de 40cm de abertura e Ascorecord destinado às medidas astrométricas do novo observatório. Tal encomenda foi cancelada em virtude da Segunda Guerra.
Com readmissão do Brasil à União Astronômica Internacional, em 1961, a idéia de um observatório moderno ressurge das cinzas. Com efeito, na administração de Luiz Muniz Barreto (1925- 2006), em 1972, o projeto de instalação de um observatório astrofísico foi aprovado pela FINEP, quando então foi encomendado o grande refletor “cassegrain-coudé” de 1,60m, principal instrumento instalado em Brasópolis (Minas Gerais), em 1981, que deu origem ao Laboratório Nacional de Astrofísica. Importantes contribuições têm sido realizadas em astronomia, astrofísica, cosmologia e geofísica, graças aos jovens pesquisadores que, em conseqüência da renovação de mentalidade universitária, é atualmente constituída por engenheiros, geofísicos, físicos, matemáticos e astrônomos, dirigidos pelo geofísico Sérgio Luiz Fontes.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, é autor de mais de 85 livros, entre outros do “O Livro de Ouro do Universo” e consultor científico do Observatório Astronômico Monoceros. Consulte: http://www.ronaldomourao.com/
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Buraco negro de maior massa é encontrado em galáxia vizinha
Astro foi encontrado ao lado de uma estrela 70 vezes mais maciça que nosso Sol. Formação de uma dupla exótica como essa é desafio para os astrônomos.
Com ajuda de telescópios em órbita e em terra, um grupo de astrônomos encontrou o buraco negro estelar de maior massa já detectado, em uma galáxia praticamente “vizinha” da nossa Via Láctea. O buraco M33 X-7 é 15,7 vezes mais maciço que o nosso Sol. O achado levantou a dúvida entre os cientistas: como um buraco negro tão grande pode ter se formado? Um buraco negro “estelar” surge depois do colapso de uma estrela de grande massa.
O que é mais estranho nesse caso é que o M33 X-7 não está sozinho, mas na órbita de uma gigantesca estrela, 70 vezes mais maciça que o Sol –- a mais maciça companheira de um buraco negro já vista. A enorme estrela também deve se transformar em uma supernova, e, depois disso acontecer, o sistema será formado por dois buracos negros.
A imagem grande mostra uma ilustração de como seria o estranho sistema encontrado. No detalhe, uma combinação entre as imagens em raios visíveis e raios-X da região (Foto: Ilustração: NASA/CXC/M.Weiss; Raio-X: NASA/CXC/CfA/ P.Plucinsky et al.; Ótico: NASA/STScI/SDSU/J.Orosz et al)
Esse exótico sistema binário surpreendeu os astrônomos, que apresentaram seus resultados na edição desta semana da revista científica “Nature”. Os modelos de teoria astronômica atuais não conseguem explicar direito como algo do tipo pode ter se formado. A coisa, por enquanto, não faz sentido.
Para formar um buraco negro com esse, a estrela original deveria ter mais massa do que sua companheira. Uma estrela como essa, no entanto, precisaria ter um raio maior do que a distância que atualmente separa os dois corpos, o que indica que as duas estrelas devem ter dividido uma atmosfera externa só. Mas esse tipo de fenômeno gera uma grande perda de massa no sistema, o que, na teoria, deveria ter impedido a formação de um buraco negro como o que foi detectado. Para fazer sentido, a estrela “mãe” do buraco negro deve ter perdido massa em uma taxa cerca de 10 vezes mais lenta do que a prevista pela teoria.
Se isso for possível e estrelas de grande massa forem mesmo capazes de perder pouca matéria, um dos mais recentes mistérios da astronomia pode começar a fazer sentido: o da supernova SN 2006gy, cuja estrela pode ter tido até 150 vezes a massa do Sol quando explodiu.
A dupla descrita pelos astrônomos na Nature está na galáxia M33, a “apenas” 3 milhões de anos luz da Terra, o que não é uma distância muito grande em termos astronômicos. Os resultados foram encontrados ao combinar dados do Observatório de Raios-X Chandra, da Nasa, em órbita da Terra, e do telescópio Gemini, do Observatório de Mauna Kea, no Havaí .
Fonte: O Globo on Line
Com ajuda de telescópios em órbita e em terra, um grupo de astrônomos encontrou o buraco negro estelar de maior massa já detectado, em uma galáxia praticamente “vizinha” da nossa Via Láctea. O buraco M33 X-7 é 15,7 vezes mais maciço que o nosso Sol. O achado levantou a dúvida entre os cientistas: como um buraco negro tão grande pode ter se formado? Um buraco negro “estelar” surge depois do colapso de uma estrela de grande massa.
O que é mais estranho nesse caso é que o M33 X-7 não está sozinho, mas na órbita de uma gigantesca estrela, 70 vezes mais maciça que o Sol –- a mais maciça companheira de um buraco negro já vista. A enorme estrela também deve se transformar em uma supernova, e, depois disso acontecer, o sistema será formado por dois buracos negros.
A imagem grande mostra uma ilustração de como seria o estranho sistema encontrado. No detalhe, uma combinação entre as imagens em raios visíveis e raios-X da região (Foto: Ilustração: NASA/CXC/M.Weiss; Raio-X: NASA/CXC/CfA/ P.Plucinsky et al.; Ótico: NASA/STScI/SDSU/J.Orosz et al)
Esse exótico sistema binário surpreendeu os astrônomos, que apresentaram seus resultados na edição desta semana da revista científica “Nature”. Os modelos de teoria astronômica atuais não conseguem explicar direito como algo do tipo pode ter se formado. A coisa, por enquanto, não faz sentido.
Para formar um buraco negro com esse, a estrela original deveria ter mais massa do que sua companheira. Uma estrela como essa, no entanto, precisaria ter um raio maior do que a distância que atualmente separa os dois corpos, o que indica que as duas estrelas devem ter dividido uma atmosfera externa só. Mas esse tipo de fenômeno gera uma grande perda de massa no sistema, o que, na teoria, deveria ter impedido a formação de um buraco negro como o que foi detectado. Para fazer sentido, a estrela “mãe” do buraco negro deve ter perdido massa em uma taxa cerca de 10 vezes mais lenta do que a prevista pela teoria.
Se isso for possível e estrelas de grande massa forem mesmo capazes de perder pouca matéria, um dos mais recentes mistérios da astronomia pode começar a fazer sentido: o da supernova SN 2006gy, cuja estrela pode ter tido até 150 vezes a massa do Sol quando explodiu.
A dupla descrita pelos astrônomos na Nature está na galáxia M33, a “apenas” 3 milhões de anos luz da Terra, o que não é uma distância muito grande em termos astronômicos. Os resultados foram encontrados ao combinar dados do Observatório de Raios-X Chandra, da Nasa, em órbita da Terra, e do telescópio Gemini, do Observatório de Mauna Kea, no Havaí .
Fonte: O Globo on Line
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