RIO - É dos ardentes que eles gostam mais. Depois de passar décadas sonhando com pousos no gélido Marte, os cientistas da Nasa agora ensaiam um flerte com o Vênus. A paquera será à distância. Como o planeta tem temperatura média de 462 graus Celsius e uma pressão atmosférica 92 vezes maior do que a da Terra, os pesquisadores pretendem construir cidades flutuantes, aos moldes de balões gigantes, para orbitá-lo a seguros 48 quilômetros da superfície.
O plano, elaborado pelo departamento de Análise de Sistemas e Conceitos de Direção (SACD) da Nasa, seria dividido em cinco estágios. No primeiro, dois astronautas passariam um mês nos balões, que usariam painéis solares para suportar o ácido sulfúrico da atmosfera venusiana. As missões seguintes continuariam por, no mínimo, dois anos. Se fossem bem-sucedidas, culminariam em instalações maiores e permanentes, com tripulação rotativa.
Por que todo esse esforço? O plano é estudar a superfície de um outro planeta — e um dos mais próximos de nós. A ideia de “flutuar” sobre ele se deve tão-somente às condições inóspitas em solo. A 48 quilômetros de altitude, a gravidade é apenas um pouco menor que a da Terra, a pressão atmosférica é comparável à que temos aqui, e há maior proteção contra a radiação solar. A temperatura baixa para “meros” 75 graus Celsius.
Na avaliação do engenheiro Christopher Jones, um dos idealizadores do projeto, um dos principais desafios técnicos são as manobras necessárias para passar da órbita da Terra e chegar à de Vênus, inflando os balões dirigíveis. Ele, no entanto, acredita que a Nasa já tem os instrumentos necessários para a operação, que pode revolucionar o modo como o ser humano se relaciona com o Sistema Solar.
— A atmosfera de Vênus é um destino emocionante, tanto para um estudo científico mais aprofundado quanto para a futura exploração humana — defende. — Nosso conceito é de um veículo mais leve do que o ar, que poderia carregar uma série de instrumentos e sondas, ou então uma tripulação de dois astronautas, que explorariam o planeta por até um mês.
ALFACES EM MARTE (!)
A proposta do SACD ainda está sendo estudada pela Nasa. Enquanto não sai do papel, os cientistas envolvidos com o projeto já se debruçam sobre a técnica de construção do balão. Eles destacam que Vênus está a 38 milhões de quilômetros da Terra — uma distância consideravelmente menor do que os 54,6 milhões que nos separam de Marte. Levar os dirigíveis à atmosfera venusiana pode ser uma operação mais barata do que abastecer as aeronaves que miram Marte.
Não que os astrônomos tenham desistido do planeta vermelho. Pesquisadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, querem cultivar sementes de alface em nosso outro vizinho no Sistema Solar.
Elas poderiam ser levadas ao planeta nos próximos quatro anos pela Fundação Mars One, que pretende criar um assentamento humano no planeta até 2026.
— Para viver em outro planeta, precisamos cultivar comida nele — ressalta Suzanna Lucracotti, líder do estudo, que ainda precisa convencer a missão Mars One sobre a viabilidade e a importância do projeto. — Temos a intenção de ser o primeiro grupo a tomar essa iniciativa. Este plano é tecnicamente viável e incrivelmente ambicioso, pois estaremos levando o primeiro modo de vida complexo a outro planeta.
Ao chegar a Marte, as sementes seriam cultivadas em uma estufa de alumínio e policarbonato, instalada na região que poderia seria a primeira ocupada pelo homem.
A força da luz solar que atinge Marte equivale a cerca de 50% da encontrada da Terra, embora a duração dos dias seja aproximadamente 40 minutos maior. Isso significa que a quantidade de luz recebida pela planta seria comparada à de um dia de inverno nublado na Terra. Já é, segundo os pesquisadores, suficiente para o cultivo.
A alface foi escolhida para a experiência por ser uma espécie amplamente estudada, eficiente no uso de seu espaço e de fácil transporte.
Outro astro do Sistema Solar também ganhou os holofotes este mês. Cientistas ainda tentam encontrar sinais de vida em Europa, uma das luas de Júpiter, onde o telescópio espacial Hubble flagrou jorros de vapor d’água no fim de 2013. No entanto, pesquisadores reunidos na União Geofísica Americana admitiram que ainda precisarão de tempo para entender o passado da superfície do satélite, que hoje está coberta de gelo.
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