Do G1, com agências internacionais *
Sombra do Curiosity aparece na superfície de Marte nesta segunda (6)
(Foto: Nasa/Brian van der Brug/AFP)
O jipe-robô Curiosity pousou na superfície de Marte por volta das 2h33
(horário de Brasília) desta segunda-feira (6), segundo a agência
espacial americana (Nasa). A aterrissagem ocorreu após uma viagem de 567
milhões de quilômetros e quase nove meses.
A missão, que investiu cerca de US$ 2,5 bilhões (mais de R$ 5 bilhões)
no projeto que pretende saber se o planeta vermelho já reuniu condições
favoráveis à vida, foi declarada completa e um sucesso 1 minuto depois.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, qualificou de "feito
histórico" a chegada do Curiosity a Marte. "Esse é um triunfo da
tecnologia sem precedentes", diz o comunicado presidencial.
A Nasa confirmou que a nave, de 1 tonelada, entrou na atmosfera do
planeta a 20 mil km/h e pousou na Cratera Gale, ao sul do equador, após
uma complexa manobra que se chamou de "sete minutos de terror'. Isso,
porque a atmosfera marciana é bem menos densa que a da Terra, o que
torna mais difícil frear uma nave lá do que aqui.
"Estou inteiro e a salvo na superfície de Marte", diz uma mensagem no
blog da Nasa, que deu lugar a uma comemoração de pelo menos 10 minutos,
com aplausos e abraços, entre funcionários na sala de controle do
Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, na sigla em inglês), em Pasadena,
na Califórnia.
Primeira imagem feita pelo Curiosity mostra a roda do jipe sobre Marte
(Foto: Reprodução/Nasa TV/Reuters)
Como havia sido planejado, a cápsula abriu um gigantesco paraquedas
para frear a queda. A cerca de 20 metros do solo, um sistema baixou o
Curiosity, que abriu suas seis rodas e iniciou a aventura em Marte.
O robô está equipado com ferramentas que podem, entre outras coisas,
perfurar rochas e coletar amostras de materiais do solo para analisar a
composição mineral local.
Controladores da missão espacial festejam o pouso do Curiosity em Marte.
(Foto: Reprodução / Nasa)
A poucas horas de o jipe tocar a superfície do planeta vermelho, ainda
no domingo (5), o site da Nasa informou que o robô estava com "boa
saúde".
Editoria de Arte / G1
Lançado em 26 de novembro de 2011, o Curiosity vinha provocando "fortes
emoções" no JPL, segundo descreveu o texto no site da agência. "O
entusiasmo vai crescendo enquanto a equipe está diligentemente
monitorando a nave (que transporta o robô)", afirmou comunicado oficial o
chefe do laboratório, Brian Portock.
Na época do lançamento do jipe, o G1 preparou o vídeo que você vê ao lado, detalhando todo o processo de pouso.
O veículo deve executar a primeira fase de sua missão em 1 ano, 10
meses e 2 semanas, mas a expectativa é de que continue suas pesquisas
por cerca de uma década. Geradores de plutônio têm capacidade de
fornecer calor e eletricidade à missão por pelo menos 14 anos. É um
sistema de geração de energia diferente do de outras missões que
contaram com painéis para geração de energia solar.
Os estudos do robô começarão em uma montanha localizada no interior da
Cratera Gale. O Curiosity vai subir a montanha e estudar as pedras ali
sedimentadas ao longo de bilhões de anos. Indícios da presença de água
no passado de Marte foram detectados em estudos anteriores, feitos a
partir de imagens do local.
Estratégias de descida
O Curiosity é maior e mais pesado que os jipes que a Nasa já mandou
para Marte, razão pela qual exige uma nova estratégia de descida. Não
bastaria usar apenas paraquedas e retrofoguetes: desta vez, foi criado
um novo mecanismo – um guindaste em que o robô desce, pendurado na nave
Mars Science Laboratory, até tocar o solo.
"Sabemos que parece maluco", afirmou Adam Steltzner, do Laboratório de
Propulsão de Jatos da Nasa (JPL, na sigla em inglês), líder da equipe
que projetou o Curiosity. "Mas é, na verdade, o resultado de decisões
cautelosas", completou.
Se qualquer parte do plano desse errado, o Curiosity se esborracharia
no chão e a missão terminaria imediatamente. A Nasa só soube se o pouso
foi ou não um sucesso 14 minutos após o ocorrido, porque esse é o tempo
que o sinal levou para chegar à Terra.
O sinal, aliás, não veio direto do veículo para a Terra. Ele foi
rebatido pela sonda Odissey, que orbita o planeta vermelho desde 2001.
Da perspectiva do Curiosity, a Terra está abaixo do horizonte, e a
manobra foi a maneira que a Nasa encontrou para fazer o sinal chegar o
mais rápido possível.
O local de pouso foi escolhido de acordo com o objetivo da missão. A
Cratera Gale oferece um alvo seguro para a aterrissagem, com uma área de
cerca de 140 km² – maior que o município de Niterói (RJ). Dali, o
veículo está relativamente próximo ao Monte Sharp, onde sondas na órbita
já visualizaram minerais que podem ter sido formados na água.
Curiosity e seus antecessores
Do tamanho de um carro, o novo robô é cinco vezes mais pesado que os
jipes Spirit e Opportunity, precursores na exploração de Marte. Mesmo
sem tripulação, ele chega a ser maior até que o jipe lunar que carregava
dois astronautas por vez nas missões americanas Apollo, que exploraram a
Lua nas décadas de 1960 e 1970.
O Curiosity é tão grande porque traz dentro de si um laboratório
inteiro. Os instrumentos científicos incluem uma carga 15 vezes maior do
que a levada por seus antecessores.
A missão está programada para durar um ano marciano, mas isso não quer
dizer muita coisa. Quando o Spirit e o Opportunity chegaram ao planeta,
em 2004, tinham como missão apenas três meses de explorações. O
Opportunity é usado até hoje, e o Spirit só foi inutilizado porque
perdeu contato com a Terra, em 2010.
Os primeiros objetos feitos pelo homem a pousarem em solo marciano
foram as sondas Viking 1 e 2, lançadas pela Nasa em 1975 – a chegada foi
em 1976. Em 1997, o Mars Pathfinder levou os EUA de volta ao planeta
vermelho e inaugurou a era dos jipes, seguida pelo Spirit, pelo
Opportunity e, agora, pelo Curiosity. A União Soviética também tentou
lançar veículos para lá, mas não obteve sucesso.
(*) Com informações da Nasa e das agências de notícias Efe, France Presse e Reuters