Um supertelescópio por ondas de rádio que está sendo construído no
Chile identificou correntes de gás capazes de formar e "alimentar"
planetas. A descoberta está descrita em um artigo publicado na revista
"Nature" desta quarta-feira (2).
As análises do Alma (sigla para Atacama Large Millimeter/submillimeter
Array) permitiram que astrônomos do Observatório Europeu do Sul (ESO),
do Observatório de Genebra, na Suíça, e de universidades e institutos do
Chile, dos EUA, da França e Alemanha estudassem uma fase crucial no
nascimento de planetas gigantes.
Concepção
artística mostra o disco de gás e poeira cósmica em volta da estrela
jovem HD 142527, observada pelo supertelescópio Alma (Foto: Alma
(ESO/NAOJ/NRAO)/M. Kornmesser (ESO)/Nick Risinger)
Esses corpos engolem o gás que flui dentro de um disco ao redor de uma
estrela jovem e, assim, aumentam de tamanho. Segundo o líder da
pesquisa, Simon Casassus, da Universidade do Chile, essa é a primeira
vez que cientistas veem diretamente essas correntes de gás – apesar de
já saberem da existência delas.
Durante o trabalho, a equipe analisou a estrela HD 142527, que fica a
mais de 450 anos-luz de distância da Terra e é cercada por um disco de
gás e poeira cósmica. Cada disco tem uma parte interna e outra externa. A
primeira apresenta uma dimensão que, no nosso Sistema Solar, vai do Sol
até Saturno. Já a área exterior começa 14 vezes mais longe e tem a
forma de uma ferradura, provavelmente causada pela gravidade dos
planetas na órbita da estrela.
De acordo com a teoria dos astrônomos, esses planetas gigantes crescem à
medida que capturam o gás do disco exterior, em correntes que formam
"pontes" entre as partes interna e externa. O grupo de pesquisadores
também observou gás difuso entre os discos e duas correntes densas de
gás que fluem do disco exterior, passam pelo espaço vazio e chegam até o
disco interior.
Disco
de gás e poeira cósmica ao redor da estrela jovem. A poeira no disco
externo aparece em vermelho, a parte verde é formada por gás denso e o
azul é gás difuso (Foto: Alma (ESO/NAOJ/NRAO), S. Casassus et al.)
A estrela HD 142527 também se alimenta do material captado no disco
interior, e os "restos" que os planetas deixam é justamente o necessário
para que o astro se mantenha em crescimento.
Segundo Sebastián Perez, também da Universidade do Chile, planetas
gigantes "escondidos" no interior do disco podem dar origem a essas
correntes. Esses corpos são camuflados pelas correntes de gás – que são
opacas –, razão pela qual ainda não puderam ser detectados de forma
direta. Perez, porém, acredita que no futuro, ao estudar a quantidade de
gás restante na região, talvez se possa estimar a massa desses
planetas.