Espanhol tenta descobrir origem dos jatos de gases que circundam a atmosfera do planeta.Para isso, conta com astrônomos amadores, como o brasileiro Fábio Carvalho.
Por Marília Juste Do G1, em São Paulo
Imagem revela detalhe das tempestades no jato mais veloz de Júpiter (Foto: Divulgação)
Com a ajuda de um grupo de astrônomos amadores, inclusive um brasileiro, um pesquisador espanhol conseguiu descrever um dos fenômenos mais intrigantes e raros de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Agustín Sánchez, da Universidade do País Basco, conseguiu captar distúrbios em um dos jatos que dominam a atmosfera do planeta.Esses “jatos” são vistos como faixas coloridas no planeta. Correspondem aqui na Terra às correntes de ar que se movimentam por nossa atmosfera. Em Júpiter, no entanto, essas correntes não são apenas absurdamente maiores, mas surpreendem por serem bastante estáveis. Se aqui na Terra elas mudam de velocidade e direção a todo momento, por lá, elas permanecem circundando as mesmas latitudes. Medições feitas em 2000 pela sonda Cassini, por exemplo, encontraram apenas pequenas diferenças entre os dados obtidos pela Voyager em 1979. O astrônomo espanhol se tornou parte do esforço mundial de aumento das observações astronômicas de Júpiter e, com o Hubble, pegou, por acaso, um distúrbio na forma de duas grandes tempestades no mais rápido jato do planeta.
Com a ajuda de astrônomos amadores atuando ao lado do Hubble, Sánchez monitorou o desenvolvimento das tempestades e seu impacto na circulação do jato. Com as imagens, e seus cálculos, o grupo do espanhol concluiu que, mesmo com os distúrbios, o jato permaneceu forte. E mais: sua velocidade deve aumentar conforme a profundidade na atmosfera. Os resultados são mais um indício de que há uma fonte de calor no interior de Júpiter e são importantes não apenas para a ciência espacial, mas também para entender um pouco mais aqui da Terra. “Jatos são onipresentes nas atmosferas planetárias. Conhecer o mecanismo físico que os opera nos permite também compreender melhor a meteorologia terrestre”, explicou Sánchez ao G1. O pesquisador se concentra agora, ao lado de outros, a descobrir a origem desses jatos. “Essa é a pergunta de um milhão de dólares”, diz ele. “Eles podem se formar da energia solar depositada no topo da atmosfera (como na Terra) ou por uma fonte interna de calor. Descobrimos que os jatos são profundos e provavelmente uma fonte interna tem um papel significativo”, afirma.
O brasileiro Fábio Carvalho, astrônomo amador do Centro de Estudos do Universo, em Brotas (SP), contribuiu para o trabalho do espanhol. Diariamente, ele faz imagens de Júpiter, que passou a Sánchez para análise. A parceria é um bom negócio para os dois lados. “É uma coisa que começou como um hobby, mas que tem trazido muitos frutos”, afirmou Carvalho, que faz faculdade de Física e pretende seguir profissionalmente nos estudos do espaço. De seu lado, Sánchez afirma a importância da parceria com os amadores. “Para a astronomia planetária, eles são essenciais, porque cobrem os buracos de observação deixados pelos grandes telescópios. Eles complementam muito bem as observações”, explica. O trabalho conjunto foi apresentado na revista científica britânica “Nature” desta semana.