quinta-feira, 15 de maio de 2008

Geleiras e sítios arqueológicos mostram sinais do aquecimento na América Latina


Áreas congeladas dos Andes venezuelanos retrocederam 70% nos últimos 30 anos. Arquitetura de adobe de civilizações antigas pode ser afetada pelo fenômeno El Niño.

Geleiras derretendo cada vez mais rápido, sítios arqueológicos em perigo e espécies em extinção são as primeiras provas visíveis dos efeitos do aquecimento global na América Latina - região que, segundo especialistas, sofrerá, além disso, um aumento de doenças. No sul da Argentina, o degelo já é um fato. De acordo com a organização ambientalista Greenpeace - que revelou em março o impactante derretimento da geleira Viedma - nos últimos 20 anos as geleiras da Patagônia diminuíram sua extensão entre 10% e 20%. "Se essa tendência continuar, muitas das geleiras menores da Patagônia desaparecerão nos próximos 20 ou 30 anos", alertou a organização.

A situação é mais dramática nos Andes. O Instituto de Investigações Científicas da Venezuela calculou em abril que as geleiras dos Andes venezuelanos retrocederam cerca de 70% nos últimos 30 anos. O mais afetado é o Pico Bolívar, o monte mais alto do país, com 4.980 metros de altura. Na Cordilheira Branca, no norte do Peru, a geleira Broggi desapareceu em 2005 devido ao aquecimento global. Marco Zapata, diretor da Unidade de Glaciologia do Instituto Nacional de Recursos Naturais (Inrena), indicou que a superfície da Cordilheira Branca, que contêm 663 geleiras, mais de 200 nevados, 296 lagoas e 44 rios importantes, é atualmente de 535 quilômetros quadrados, segundo imagens de satélites de 2002 e 2003, o que representa uma redução de 25%, comparado a 1970.

Arqueologia ameaçada
A Unesco também lançou um alerta na região, rica em tesouros arqueológicos, no ano passado, ao prever que as variações climáticas ameaçariam regiões declaradas Patrimônio Mundial. Entre eles, a zona arqueológica de Chan Chan no Peru, a antiga capital do Reino Chimu, uma das mais importantes da América e que possui uma arquitetura de adobe afetada pelas chuvas do fenômeno El Niño. O mesmo ocorre com a zona arqueológica pré-colombiana de Chavín, a 460 quilômetros de Lima e localizada dentro do Parque nacional Huascarán, paraíso de flora e fauna que contém espécies pouco comuns como o condor-andino, a perdiz-de-puna e o urso-de-óculos.

Os cientistas também prevêem que o aumento do nível do mar devido ao derretimento do gelo causará graves problemas nas regiões pantanosas e com deltas, especialmente no Equador, Colômbia e Brasil, onde o perímetro da floresta amazônica pode se converter em uma savana.Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), entre 2000 e 2005 houve 2,5 vezes mais eventos extremos climáticos na região do que entre 1970 e 2000, e essa tendência continuará. O IPCC prevê mais furacões, secas, chuvas torrenciais, granizo e desertificação na América Latina nos próximos anos.

Outra área crítica é o aumento de problemas de saúde, especialmente a massificação das doenças tropicais como a malária e a dengue, que nos últimos anos alcançou proporções de epidemia no Brasil, Honduras, El Salvador e Venezuela, de acordo com o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Da France Presse

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