segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Asteróides podem atingir a Terra ainda neste século

O povoado de Carancas, no Peru, tem dois mil habitantes e 3,8 mil metros de altitude. Fica perto do famoso Lago Titicaca, na fronteira com a Bolívia. “No dia 15 de setembro de 2007, às 11h45, ouvimos um estrondo. Parecia um terremoto”, conta Maximiliano Trujillo, presidente da comunidade de Carancas. Uma nuvem de poeira se ergueu. Destroços foram lançados a 200 metros e quebraram o telhado de uma casa. “Será que é um míssil? Estamos sendo atacados por outro país?”, lembra Trujillo.
O pacífico vilarejo andino foi palco de um evento raro: a queda de um meteorito. Vizinhos destruidores rondam o nosso planeta. Já foram identificados mais de cinco mil deles vagando perigosamente perto da Terra. O último a cair foi esse no Peru. Por sorte, era pequeno e não feriu ninguém. Mas quando virá o próximo? Asteróides são imensos blocos, de rocha ou metal, perdidos no espaço há milhões de anos. Quando caem na Terra, os asteróides passam a ser chamados de meteoritos. “Ele passa com uma velocidade hipersônica, 100 ou 200 vezes maior do que a velocidade do som. Isso dá uma frente de choque brutal quando ele vem”, explica o professor da USP, Enos Picazzio. Foi um meteorito gigantesco que exterminou os dinossauros, há 65 milhões de anos. Colisões brutais aconteceram apenas no passado turbulento do sistema solar. Era o que muitos cientistas pensavam até outro dia. Mas não é bem assim. A geofísica Dallas Abbott, da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, encontrou evidências de que muitos desastres ocorreram há pouquíssimo tempo. Dallas Abbott teve uma grande idéia: se a água recobre 70% da superfície terrestre, então a maior parte dos asteróides cai no mar. A tese vem se confirmando. Pode haver mais de 100 crateras debaixo do oceano, um território pouco estudado. “Na verdade, nós sabemos mais sobre a superfície de Vênus do que sobre o fundo do mar”, diz Dallas Abbott.

Catástrofe bíblica
Perto de Madagascar, na África, Abbott acredita ter encontrado indícios de uma catástrofe bíblica. Há 4,8 mil anos (o que, do ponto de vista geológico, é ontem), um objeto de mais de três quilômetros de diâmetro teria gerado uma tsunami com quase 200 metros de altura. Para descrever o dilúvio, a Bíblia fala em 40 dias e 40 noites de inundação. Para a cientista, tudo foi causado pela queda de um asteróide no mar. Mas não é só com esses impactos gigantes que os cientistas se preocupam. Asteróides pequenos trazem risco imediato. “Os pequenos a gente só consegue observar quando eles estão muito próximos”, acrescenta Enos Picazzio, professor do departamento de astronomia da USP. Foi o que aconteceu no Peru. O meteorito de Carancas caiu a uma velocidade de três quilômetros por segundo, explodiu no solo e surpreendeu a todos. A cratera de Carancas hoje está coberta por uma lona por iniciativa dos moradores. É que este é um povoado muito pobre, e as pessoas acham que, protegendo a cratera, podem um dia vir a atrair turistas, por exemplo. Mas se hoje as pessoas de Carancas estão felizes com a cratera, não foi assim no dia em que o objeto caiu. Era um objeto de cerca de um metro de diâmetro que provocou todo esse estrago e apavorou a população. Na época, 164 moradores procuraram o posto de saúde. “Sentiam dor de cabeça, dor de estômago e mal-estar”, lembra a agente de saúde Nélida Chaiña. “Minha preocupação era se o material poderia ser radioativo”, diz o astrônomo José Ishitsuka, do Instituto Geológico do Peru. Ele fez parte da equipe que analisou a cratera. Não encontrou radioatividade ou substâncias tóxicas. Mas então por que as pessoas passaram mal? “Foi psicológico”, avalia a agente de saúde Nélida Chaiña.

Asteróide pode atingir a Terra ainda neste século
“A probabilidade de um asteróide cair na Terra ainda neste século é de 100%. A questão é saber o tamanho”, prevê a geofísica Dallas Abbott, que arrisca: “Pode ser algo em torno de 30 metros”. Trinta metros era o diâmetro aproximado de um objeto que atingiu a Sibéria, em 1908. Ele se desintegrou no ar e nem bateu no chão. Foi o suficiente para devastar uma área de dois mil quilômetros quadrados de floresta. Hoje, os supertelescópios estão voltados para um inimigo do tamanho de um estádio de futebol. “É um asteróide chamado ‘Apophis’”, conta o professor da USP, Enos Picazzio. Existe uma chance pequena, porém nada desprezível, de que Apophis atinja a Terra em menos de 30 anos. “Seria por volta de 2036”, calcula Picazzio. Esse impacto provocaria uma catástrofe climática. Chuvas ácidas, diminuição drástica da temperatura e tempestades de poeira que deixariam o planeta nas trevas por décadas.

Cientistas planejam soluções
Mas como evitar essa tragédia? Fala-se até em enviar uma espaçonave com um sistema de propulsão para desviar o asteróide. Ou ainda: usar a luz do sol, refletida num grande espelho espacial, para empurrar o objeto para longe. “Porque a luz exerce uma pressão. É muito pequena, mas numa escala de tempo muito grande e insistentemente em cima desses objetos, você conseguiria alterar a órbita”, acrescenta o professor da USP. Mas é tudo muito caro e sem a menor garantia de sucesso. A gente simples de Carancas teme que outro meteorito caia no povoado, mas é muito improvável. Assim como é improvável que uma catástrofe extermine a espécie humana a curto prazo. Milhares e milhares de anos podem se passar, mas... “Que um dia vai acontecer, vai”, garante o professor da USP Enos Picazzio.


Globo on line/Fantástico

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