Evento fortuito ajuda a entender formação de estrelas na periferia galáctica.Dupla fotografada é da classe espiral, mesmo tipo que a Via Láctea.
Salvador Nogueira Do G1, em São Paulo
Um alinhamento curioso e incomum permitiu que um grupo internacional de astrônomos desvendasse um dos segredos de pelo menos algumas galáxias como a nossa: como nascem as estrelas que residem em sua periferia. Isso sem falar que a foto, obtida pelo sempre atento Telescópio Espacial Hubble, é de tirar o fôlego.
Pequena galáxia espiral passa à frente de outra, maior, em imagem do Hubble (Foto: NASA/ESA/STScI)
O par de galáxias centralizado na foto ganhou o adorável nome 2MASX J00482185-2507365. "Poético, né?", brinca Julianne Dalcanton, da Universidade de Washington, nos EUA, uma das autoras do novo estudo. "Mas pelo menos ele tem um nome", destaca a cientista, lembrando que a imensa maioria das galáxias -- são tantas espalhadas universo afora -- nem chega a receber um nome. Como se pode ver, são duas galáxias espirais, ou seja, com braços que se curvam sobre o centro -- exatamente como a nossa boa e velha Via Láctea, galáxia que abriga a Terra. A menor, pasme, é a mais próxima. Mas ela está bem afastada da maior e mais distante -- e é esse alinhamento fortuito que acabou gerando dados muito interessantes para os cientistas. Pelo fato de que a galáxia mais próxima está à frente da mais distante (que, por sua vez, está a 780 milhões de anos-luz daqui), é possível observar certas nuvens de poeira localizadas na borda de seus braços exteriores. Normalmente, contra o fundo negro do espaço, essas nuvens não seriam visíveis. "A poeira é a parte interessante", diz Dalcanton. "Sabemos que a maioria das galáxias espirais tem discos grandes de hidrogênio, mas não sabemos muito sobre o gás mais frio localizado mais longe do centro da galáxia. Esse gás é importante, já que é o precursor imediato da formação de estrelas. Como a poeira e o gás são fortemente associados, onde você encontra uma grande quantidade de poeira, você sabe que haverá gás também." Isso confirma o que os astrônomos imaginavam, pois a presença do gás, antes "invisível", era exigida para a formação de estrelas naquela região -- fato fartamente confirmado por observações. Mais que isso, as observações também ajudaram a ver que o gás está fortemente confinado nos braços espirais da galáxia.
Dois anos na geladeira
A imagem que propiciou a descoberta não é exatamente nova -- fazia parte de um grande conjunto de observações iniciado em 2006 por Dalcanton e seus colegas. "Essas eram apenas duas galáxias aleatórias que caíram em uma imagem que obtivemos como parte de uma grande pesquisa de galáxias próximas", conta a pesquisadora. "Ben Williams, um aluno de pós-doutorado na Universidade de Washington, foi o primeiro a notá-las. Dissemos, 'ei, essas são legais, alguém deveria fazer algo com elas, provavelmente'. Mas tínhamos o resto da pesquisa com que trabalhar, então elas tiveram de esperar." A espera terminou em janeiro, quando o grupo de Dalcanton fez uma parceria com Benne Holwerda, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, para estudá-la. "Nós enviamos as imagens para Benne, que liderou a análise. O sistema é perfeito para esse tipo de análise, porque a galáxia de fundo é incomumente regular, de forma que a maior parte da estrutura que observamos pode ser atribuída a variações na distribuição da poeira, e não na luz da galáxia de fundo." Um artigo detalhado sobre a pesquisa foi aceito para publicação no periódico "Astronomical Journal".
Dois anos na geladeira
A imagem que propiciou a descoberta não é exatamente nova -- fazia parte de um grande conjunto de observações iniciado em 2006 por Dalcanton e seus colegas. "Essas eram apenas duas galáxias aleatórias que caíram em uma imagem que obtivemos como parte de uma grande pesquisa de galáxias próximas", conta a pesquisadora. "Ben Williams, um aluno de pós-doutorado na Universidade de Washington, foi o primeiro a notá-las. Dissemos, 'ei, essas são legais, alguém deveria fazer algo com elas, provavelmente'. Mas tínhamos o resto da pesquisa com que trabalhar, então elas tiveram de esperar." A espera terminou em janeiro, quando o grupo de Dalcanton fez uma parceria com Benne Holwerda, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, para estudá-la. "Nós enviamos as imagens para Benne, que liderou a análise. O sistema é perfeito para esse tipo de análise, porque a galáxia de fundo é incomumente regular, de forma que a maior parte da estrutura que observamos pode ser atribuída a variações na distribuição da poeira, e não na luz da galáxia de fundo." Um artigo detalhado sobre a pesquisa foi aceito para publicação no periódico "Astronomical Journal".
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