Postado por Cássio Barbosa em 15 de Outubro de 2008 às 10:53
Cá estou eu em mais uma viagem para congresso. Desta vez, vim participar de um encontro para comemorar os 70 anos de um colaborador meu. O congresso está acontecendo no Observatório Lowell, no Arizona (EUA). Além do congresso em si, o local escolhido é bastante interessante, já que este foi o observatório onde Plutão foi descoberto, além de outras coisas. Agora que eu já fiz minha apresentação, modéstia à parte bastante elogiada, estou mais tranqüilo para atualizar o blog.
Tudo começou em 1893, quando Percival Lowell, um diplomata formado em matemática, ouviu dizer que Schiaparelli, o astrônomo italiano que observou os canais de Marte, estava ficando cego e não poderia mais continuar seu trabalho. Em 1894 ele construiu seu observatório no alto de uma colina em Flagstaff. O local foi escolhido depois de intensa pesquisa e se revelou um excelente sítio, muito escuro e muito seco, quase um deserto.
Esse observatório era dedicado ao estudo do Sistema Solar, em especial de Marte e seus canais. De acordo com a teoria de Lowell, os marcianos usavam esses canais para levar água dos pólos para o resto do planeta. Segundo ele, era possível perceber a vegetação crescendo em torno do canal de tempos em tempos. Lowell registrou suas observações em desenhos coloridos (cheguei a manuseá-los em uma biblioteca da USP) e em globos marcianos como este no museu do observatório (que não deu para pegar).
Além de Marte, Lowell também estudou intensivamente Mercúrio (produzindo alguns rascunhos de sua superfície), determinou o período de rotação de Mercúrio e Vênus e determinou a constituição interna de Júpiter e Saturno a partir da observação de seus satélites. Além dos canais marcianos, outra obsessão de Lowell era descobrir o nono planeta do Sistema Solar, que ele chamava de Planeta X.
Para tentar localizá-lo, Lowell partiu do mesmo princípio usado para descobrir Netuno. Depois de descoberto, Urano por vezes se "atrasava" ou se "adiantava" e não era encontrado na posição prevista. O astrônomo inglês John Adams e o matemático francês Urbain Le Verrier (independentemente) modelaram essas pertubações como sendo originárias de um outro planeta e definiram qual deveria ser a sua posição no céu. Aí começou uma corrida para ver quem descobriria o tal planeta até que finalmente Netuno foi observado em 23 de setembro de 1846 por James Challis. Essa história tem detalhes que envolvem desleixo, competição e coincidências que outra hora eu conto, mas Galileu já tinha observado Netuno em dezembro de 1612 e janeiro de 1613. No entanto, como o planeta tem um movimento muito lento no céu, Galileu não percebeu nenhuma mudança em sua posição, de modo que o confundiu com uma estrela.
Voltando ao Planeta X, Lowell tentou aplicar o mesmo raciocínio para Netuno, que teimava em não estar na posição prevista. Hoje sabemos que essas perturbações são ocasionadas pelos outros planetas gigantes do Sistema Solar e não poderiam ser criadas por um corpo celeste tão pequeno como Plutão. Em 1915, é possível que Lowell tenha feito algumas fotos de Plutão, que teria passado despercebido. Depois de sua morte, em 1916, apenas em 1929 a busca pelo Planeta X foi retomada por Clyde Tombaugh. Finalmente, em 1930, Plutão foi descoberto nesse aparelho da foto abaixo. Ele é um comparador de campos e funciona de modo simples: uma foto de uma determinada região do céu era tirada e, após duas semanas, tirava-se outra foto dessa mesma região. As duas eram colocadas lado a lado e iluminadas alternadamente. Se alguma coisa mudasse de uma imagem para outra, estaria ali um corpo do Sistema Solar, já que as estrelas não se mexem.
Quase 100 anos depois, Plutão foi rebaixado à categoria de planeta anão, mas aparentemente essa história não terminou. Na assembléia geral da União Astronômica Intenacional do ano que vem, que vai acontecer no Rio de Janeiro, essa decisão deve ser rediscutida. Na porta do museu do observatório, quatro urnas estão penduradas e o visitante pode votar nas seguintes opções: "Plutão deve ser considerado um planeta", "Plutão deve ser considerado um planeta anão", "Plutão não deve ser considerado nenhum tipo de planeta" ou "Quem se importa? Eu quero ajudar a manter o observatório!". A votação é feita com cédulas de dinheiro, em forma de doações. Para minha surpresa, planeta anão está ganhando com 320 dólares, contra 226 para planeta.
Tudo começou em 1893, quando Percival Lowell, um diplomata formado em matemática, ouviu dizer que Schiaparelli, o astrônomo italiano que observou os canais de Marte, estava ficando cego e não poderia mais continuar seu trabalho. Em 1894 ele construiu seu observatório no alto de uma colina em Flagstaff. O local foi escolhido depois de intensa pesquisa e se revelou um excelente sítio, muito escuro e muito seco, quase um deserto.
Esse observatório era dedicado ao estudo do Sistema Solar, em especial de Marte e seus canais. De acordo com a teoria de Lowell, os marcianos usavam esses canais para levar água dos pólos para o resto do planeta. Segundo ele, era possível perceber a vegetação crescendo em torno do canal de tempos em tempos. Lowell registrou suas observações em desenhos coloridos (cheguei a manuseá-los em uma biblioteca da USP) e em globos marcianos como este no museu do observatório (que não deu para pegar).
Além de Marte, Lowell também estudou intensivamente Mercúrio (produzindo alguns rascunhos de sua superfície), determinou o período de rotação de Mercúrio e Vênus e determinou a constituição interna de Júpiter e Saturno a partir da observação de seus satélites. Além dos canais marcianos, outra obsessão de Lowell era descobrir o nono planeta do Sistema Solar, que ele chamava de Planeta X.
Para tentar localizá-lo, Lowell partiu do mesmo princípio usado para descobrir Netuno. Depois de descoberto, Urano por vezes se "atrasava" ou se "adiantava" e não era encontrado na posição prevista. O astrônomo inglês John Adams e o matemático francês Urbain Le Verrier (independentemente) modelaram essas pertubações como sendo originárias de um outro planeta e definiram qual deveria ser a sua posição no céu. Aí começou uma corrida para ver quem descobriria o tal planeta até que finalmente Netuno foi observado em 23 de setembro de 1846 por James Challis. Essa história tem detalhes que envolvem desleixo, competição e coincidências que outra hora eu conto, mas Galileu já tinha observado Netuno em dezembro de 1612 e janeiro de 1613. No entanto, como o planeta tem um movimento muito lento no céu, Galileu não percebeu nenhuma mudança em sua posição, de modo que o confundiu com uma estrela.
Voltando ao Planeta X, Lowell tentou aplicar o mesmo raciocínio para Netuno, que teimava em não estar na posição prevista. Hoje sabemos que essas perturbações são ocasionadas pelos outros planetas gigantes do Sistema Solar e não poderiam ser criadas por um corpo celeste tão pequeno como Plutão. Em 1915, é possível que Lowell tenha feito algumas fotos de Plutão, que teria passado despercebido. Depois de sua morte, em 1916, apenas em 1929 a busca pelo Planeta X foi retomada por Clyde Tombaugh. Finalmente, em 1930, Plutão foi descoberto nesse aparelho da foto abaixo. Ele é um comparador de campos e funciona de modo simples: uma foto de uma determinada região do céu era tirada e, após duas semanas, tirava-se outra foto dessa mesma região. As duas eram colocadas lado a lado e iluminadas alternadamente. Se alguma coisa mudasse de uma imagem para outra, estaria ali um corpo do Sistema Solar, já que as estrelas não se mexem.
Quase 100 anos depois, Plutão foi rebaixado à categoria de planeta anão, mas aparentemente essa história não terminou. Na assembléia geral da União Astronômica Intenacional do ano que vem, que vai acontecer no Rio de Janeiro, essa decisão deve ser rediscutida. Na porta do museu do observatório, quatro urnas estão penduradas e o visitante pode votar nas seguintes opções: "Plutão deve ser considerado um planeta", "Plutão deve ser considerado um planeta anão", "Plutão não deve ser considerado nenhum tipo de planeta" ou "Quem se importa? Eu quero ajudar a manter o observatório!". A votação é feita com cédulas de dinheiro, em forma de doações. Para minha surpresa, planeta anão está ganhando com 320 dólares, contra 226 para planeta.
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Lucimary Vargas
Presidente
Observatório Astronômico Monoceros
Além Paraíba-MG-Brasil
observatorio.monoceros@gmail.com
Presidente
Observatório Astronômico Monoceros
Além Paraíba-MG-Brasil
observatorio.monoceros@gmail.com
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