Substância invisível forma boa parte do universo, segundo teoria.
Raios cósmicos registrados na ISS podem ajudar a confirmar sua estrutura.
Cientistas disseram nesta quarta-feira (3) que podem ter identificado
sinais de matéria escura no espaço, substância misteriosa que não
interage com a luz e que pode formar mais de um quarto do universo, mas
cuja constituição não é efetivamente conhecida. O anúncio foi feito em
um seminário no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), localizado
em Genebra, na Suíça.
A equipe de pesquisadores ressaltou ter registrado o que parecem ser
traços físicos da matéria escura, com um nível de detalhe inédito, ao
estudar radiação de pósitrons (o equivalente a um elétron, mas carregado
positivamente) identificados na Estação Espacial Internacional (ISS, na
sigla em inglês) nos últimos 18 meses.
Detector de partículas AMS instalado na Estação Espacial Internacional
Foto: Divulgação/CERN/Nasa)
O experimento que pode dar as primeiras evidências da matéria escura
foi realizado com a ajuda do Espectrômetro Alfa Magnético (AMS, na sigla
em inglês) a bordo da estação espacial. O equipamento, um grande
detector de partículas apelidado de "LHC espacial" pelos cientistas do
Cern, têm procurado evidências indiretas da substância misteriosa e
custou US$ 2 bilhões.
O AMS identificou uma quantidade razoável de pósitrons (partículas
semelhantes a elétrons, mas com carga positiva) que podem ter surgido do
decaimento da matéria escura, dizem os pesquisadores. Os dados podem
nos prover uma descoberta muito empolgante no futuro", disse Michael
Salamon, gerente do programa científico da AMS no Departamento de
Energia dos EUA, em entrevista coletiva na tarde desta quarta, em
Wahsington.
"Nos próximos meses, o AMS vai poder nos dizer de forma conclusiva se
estes pósitrons são um sinal da matéria escura ou se têm outra origem",
afirmou Samuel Ting, diretor do projeto que construiu o detector de
partículas, durante o seminário.
Por não interagir com a luz, a matéria escura é invisível. Sua
existência se supõe pela força gravitacional que aparentemente exerce em
planetas e estrelas.
Espectrômetro
Alfa Magnético (AMS, na sigla em inglês) antes de ser enviado ao espaço
(Foto: Divulgação/Michele Famiglietti/CERN/Nasa)
Para Roberto Batiston, professor de física da Universidade de Perugia e
porta-voz do projeto AMS, uma descrição precisa da substância
misteriosa precisa de mais tempo para ser feita. "Pode levar alguns
anos", disse ele, em entrevista à britânica BBC.
Para a física Pauline Gagnon, que trabalha num experimento do Cern para
a detecção de "matéria escura", a precisão do AMS pode fazer com que
"seja possível fazer uma primeira identificação da substância em breve",
disse ela à Reuters. "Seria incrível, algo como descobrir um continente
completamente novo", afirmou.
A descoberta de elementos que venham a formar a "matéria escura" pode
abrir novas áreas de pesquisa, incluindo a hipótese de estudar novas
dimensões e outros universos, afirmaram físicos entrevistados pela
agência Reuters.
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