por Cassio Barbosa |
categoria Observatório
Nós estivemos acompanhando aqui no G1 e em vários
outros sites toda a saga do cometa Ison, lembra? Desde que foi
descoberto ele foi batizado de “cometa do século”. Isso porque ainda
além da órbita de Júpiter, seu brilho já era o de um cometa que
estivesse muito mais próximo. Aplicando-se os modelos que descrevem como
o brilho aumenta com a diminuição da distância ao Sol, a previsão era
de que seria possível que ele fosse visto até mesmo de dia. Esses
modelos foram construídos em observações de cometas típicos durante
décadas, sendo aperfeiçoados cometa após cometa.
Para que ele se tornasse o tal cometa do século, o Ison precisaria
resistir a uma prova e tanto. Sua órbita previa um periélio (a menor
distância até o Sol) tão curto que o cometa teria de atravessar a coroa
solar sem ser destruído, tanto pelas imensas temperaturas, quanto pelas
intensas forças gravitacionais. Os prognósticos eram ruins, mas outros
cometas passaram por isso anteriormente e sobreviveram para contar a
história, ainda que nenhum tenha ficado tão brilhante assim.
O fato é que o Ison não é um cometa típico e adora pregar peças nos
astrônomos: ele estava brilhante onde deveria estar fraco; ele manteve
seu brilho constante, quando deveria ter aumentado; sofreu uma violenta
erupção, com a emissão de jatos, quando seu núcleo estava “adormecido”; e
finalmente, perdeu brilho conforme se aproximou do Sol, quando deveria
estar em seu máximo, e se desintegrou no periélio. Só que não!
Já há dois dias que venho acompanhado o Ison quase que de hora em
hora, através das imagens obtidas pelos satélites que monitoram
continuamente a atividade solar, como o Soho e os Stereo. Durante a
tarde a expectativa pela passagem pelo periélio e a sobrevivência do
núcleo após esse encontro tórrido com o Sol tomou conta de muita gente.
Tanto que o site do satélite Soho, com as melhores imagens dessa
passagem saiu do ar.
No meio da tarde o Ison mergulhou por trás do disco solar e suas
últimas imagens não eram lá muito auspiciosas. Elas mostravam um cometa
com “cabeça pontuda”, como se as partes externas de uma pedra fossem
sendo desbastadas, até que uma bolinha brilhante se tornasse a ponta de
um alfinete brilhante. Esse é o sinal de que o núcleo é consumido ou se
desintegra. Em ambos os casos, destruído.
Durante algum tempo ainda, astrônomos ficaram debatendo se o Ison
surgiria novamente nas imagens dos satélites, mas ninguém tinha muita
esperança.
Quando já havia um consenso de que o Ison não teria resistido ao seu
periélio, o Soho mostrou uma imagem em que é possível ainda ver uma
tênue cauda surgindo na direção esperada para o cometa. Tipo cauda de um
núcleo inexistente.
O que deve ter acontecido é que fragmentos do núcleo do Ison
continuaram seguindo a órbita do núcleo, como uma bola de neve que vai
se despedaçando durante o voo. Apesar das aparências e querer muito que
fosse ele, sem dúvida nenhuma o Ison nos pregou outra peça!
Em primeiro lugar, o tal cometa sem cabeça foi interpretado como os
fragmentos do núcleo exauridos de todo o gelo, portanto, com pouco
brilho. Só a reflexão da luz do Sol nos destroços rochosos. Só que aos
poucos o a ponta dessa agulha está se tornando mais brilhante.
Na última imagem do Soho, neste começo de madrugada, ele voltou a ter coma! Isso
pode significar que uma parte do núcleo do cometa deve sim ter
sobrevivido e está ativo, ou seja, ainda há gelo suficiente nele para
formar a coma em volta do núcleo e uma pequena cauda! O cometa deve então seguir sua trajetória e voltar a ser observado no começo de dezembro, especialmente no hemisfério norte.
Mas, na real, eu não aposto em mais nada e termos de previsão para o
Ison. Dois colegas meus “enterraram” o cometa mais cedo. Eu mesmo
reescrevi este post 2 vezes e ainda estou esperando as imagens mais
recentes para poder dizer alguma coisa com mais firmeza. Não duvido que
mais tarde as imagens mostrem que essa coma seja a fragmentação
derradeira dos destroços do núcleo, pondo um ponto final nisso tudo.
Mas uma coisa é certa. O Ison veio para animar o cenário de cometas.
Astrônomos que lidam com imagens do Soho afirmaram que já viram centenas
de cometas, mas nenhum como esse. Adaptando uma piadinha que correu no
Twitter desse pessoal, “exemplos de mortos que voltaram à vida:
vampiros, zumbis, Jason e agora o Ison”.
*Crédito: Agência Espacial Europeia
http://g1.globo.com/platb/observatoriog1/2013/11/29/ison-o-cometa-piadista-do-seculo/
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