As sondas gêmeas Ebb e Flow, que por um ano fizeram imagens que
permitiram conhecer melhor a estrutura interna da Lua, concluíram sua
missão nesta segunda-feira (17), caindo perto do polo norte do satélite,
segundo informa o site agência espacial americana Nasa.
"A missão foi um sucesso, mas este é um momento um pouco triste para
mim", disse na última semana David Lehman, o gerente do programa Grail
(a sigla em inglês que corresponde a Laboratório Interior e de
Recuperação de Gravidade), em entrevista coletiva dada em Pasadena,
Califórnia.
Ilustração mostra Ebb e Flow orbitando a Lua (Foto: Nasa)
Após anos de preparação, um foguete Delta II partiu em setembro de 2011
propulsando rumo à Lua dois satélites: o Grail A - que estudantes
americanos batizaram como Ebb - e o Grail B, batizado como Flow.
Essas sondas, que voavam lado a lado, empregaram um sistema de campo
gravitacional de alta qualidade para determinar a estrutura interior da
Lua. No domingo foi completada a última órbita dos robôs gêmeos, cujo
combustível estava acabando, e o controle da missão deu comando para que
todos os instrumentos científicos fossem desligados.
Imagem feita pelas sondas da Nasa mosta mapeamento da superfície da Lua(Foto: Nasa)
A partir de medições de sondas da missão Grail foi possível concluir
que os asteroides e cometas que colidiram com a Lua não apenas tornaram
sua superfície esburacada, mas também provocaram profundas fraturas na
crosta do satélite terrestre. Esses resultados surpreeram os cientistas
envolvidos na missão, que tiveram trabalhos publicados numa edição
impressa da "Science" do começo do mês.
A descoberta pode ajudar a decifrar um enigma sobre Marte. No planeta
vizinho da Terra, fraturas similares podem ter proporcionado um caminho
para que a água da superfície penetrasse profundamente no solo, onde ela
pode estar até hoje, afirmaram os cientistas.
"Marte pode ter tido um antigo oceano e todos nós nos perguntamos para
onde ele foi. Bem, esse oceano pode muito bem estar no subterrâneo",
afirmou a cientista Maria Zuber, do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT).
"Sabia-se que os planetas rochosos do Sistema Solar tinham sofrido
muitos impactos há vários bilhões de anos, mas ninguém pensava que a
superfície lunar tivesse sido tão maciçamente bombardeada", destacou
Maria Zuber, encarregada científica da missão.
As duas sondas gêmeas, em órbita polar desde janeiro passado, fizeram
medições muito precisas do campo gravitacional lunar que revelaram a
divisão das massas, assim como a espessura e a composição dos diferentes
estratos da Lua, até seu núcleo.
Deixaram claro, por exemplo, que a crosta lunar é muito mais fina do
que pensavam os cientistas, ao apresentar uma espessura de 34 km a 43
km, de 6 km a 12 km a menos do que o se tinha calculado até agora.
A composição da Lua aparece, então, como "similar à da Terra, o que
alimenta a teoria de que está formada por materiais terrestres
espalhados após um enorme impacto no começo da história do Sistema
Solar", explicou Mark Wieczorek, do Instituto de Física do Globo de
Paris, autor de um dos três estudos sobre os resultados da missão Grail.
Estas pesquisas foram apresentadas na conferência anual da American
Geophysical Union, em San Francisco. Em relação à sua superfície, o
interior da Lua parece extremamente regular. Os cientistas descobriram
que a maior parte das variações constatadas no campo gravitacional eram
produto de formações geológicas produzidas na superfície, como montanhas
ou crateras.
A crosta externa da lua carece de estruturas rochosas densas e é
constituída, provavelmente, por materiais porosos ou pulverizados. O
mapa do interior da Lua revela, por sua vez, a existência de mapas mais
densas, formadas por magma vulcânico, que terminou se solidificando e
formando densas paredes rochosas.
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