Primeiros vestígios de luz captados após o Big Bang têm 380 mil anos.
Imagem foi feita após 15,5 meses de coleta de dados do telescópio Planck.
Uma imagem divulgada nesta quinta-feira (21) pela Agência Espacial
Europeia (ESA) mostra o mapa mais preciso já feito do início do
Universo, com os primeiros vestígios de luz captados após o Big Bang –
teoria dominante que explica a origem do Cosmos.
Nessa época, o Universo tinha "apenas" 380 mil anos de idade – hoje,
segundo dados obtidos pelo telescópio Planck da ESA, calcula-se que
tenha cerca de 13,8 bilhões de anos, 100 milhões de anos a mais que as
estimativas anteriores.
Mapa mostra primeiros vestígios de radiação identificados no Universo
(Foto: ESA–Planck Collaboration/AFP)
A imagem acima se baseia em uma coleta de dados feita ao longo de 15
meses e meio pelo Planck, lançado em 2009 em busca da primeira luz
emitida depois da "Grande Explosão". Os pontos azuis e amarelos indicam
variações de temperatura.
Esse registro superdetalhado da chamada "radiação cósmica de fundo em
micro-ondas" é um dos mais fortes indícios da existência do Big Bang, e
carrega as "sementes" de todas as estrelas e galáxias conhecidas.
A temperatura na ocasião chegava a 3.000° C. Antes disso, o Universo
era tão quente que nenhuma luz poderia sair dele. O telescópio capturou,
então, o "fóssil" do primeiro fóton (partícula elementar da luz) que
surgiu no Cosmos e viajou por mais de 13 bilhões de anos para chegar até
nós. Essa radiação hoje é extremamente fria, com apenas 3° C a mais que
o zero absoluto (-273,15° C), e invisível – mas pôde ser detectada
pelas ondas de rádio do Planck.
Segundo os astrônomos, esses resquícios revelam a existência de traços
que podem desafiar as bases da nossa atual compreensão do Universo e
levar a um melhor entendimento da "receita cósmica" que o compõe.
De acordo com uma revisão da ESA, o Universo é formado por apenas 4,9%
de matéria visível, feita de átomos. Os outros 95,1% se dividem em
energia escura (68,3%) e matéria escura (26,8%). Antes do Planck,
acreditava-se que havia 72,8% de energia escura, 22,7% de matéria escura
e 4,5% de matéria visível.
Mapa
completo do céu mostra a matéria entre a Terra e o limite observável do
Universo. As regiões mais claras são as de menor massa e as mais
escuras, de maior. As áreas acinzentadas são as partes mais brilhantes
da nossa galáxia, que bloquearam o mapeamento do Planck (Foto:
ESA/Nasa/JPL-Caltech)
"Ousamos olhar o Big Bang de perto, o que permitiu compreender a
formação do Universo 20 vezes melhor que antes", disse à agência AFP o
diretor geral da ESA, Jean-Jacques Dordain, ao apresentar os primeiros
resultados do Planck em Paris.
Com exceção de algumas anomalias encontradas – com as quais, segundo
Dordain, os teóricos devem trabalhar durante semanas –, os dados do
telescópio reforçam de maneira "espetacular" a hipótese de um modelo de
Universo relativamente simples, plano e em expansão. Mas, segundo os
novos resultados, esse aumento de tamanho tem ocorrido mais lentamente
do que os cientistas pensavam.
Na opinião do astrofísico George Efstathiou, da Universidade de
Cambridge, no Reino Unido, o mapa parece uma bola de rúgbi danificada ou
uma obra de arte moderna. "Mas posso garantir que alguns cientistas
trocariam seus filhos por essa imagem", brincou.
Para ter precisão absoluta e eliminar todos os sinais de interferência
emitidos pela Via Láctea e por outras galáxias, o Planck conta com um
instrumento de alta frequência que deve ser resfriado a um décimo de
grau acima do zero absoluto.
"Essa façanha tecnológica, feita em um ambiente sem gravidade e no
vácuo, não tem equivalente, e nenhum equipamento espacial poderá
ultrapassá-lo por um longo tempo", disse Dordain.
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