Detector IceCube capturou 28 neutrinos com alta energia de 2010 a 2012.
Trabalho foi feito por 260 cientistas de 11 países e publicado na 'Science'.
Ilustração do laboratório do projeto IceCube, na estação americana Amundsen-Scott
(Foto: IceCube/NSF)
Dentro do gelo eterno da Antártica, cientistas encontraram a primeira
evidência concreta de partículas de alta energia vindas de fora do nosso
Sistema Solar. Entre maio de 2010 e maio de 2012, o detector IceCube
capturou um total de 28 neutrinos com energia cinética superior à de uma
mosca voando – tudo compactado em uma única partícula elementar. Os
resultados estão publicados na revista "Science" desta sexta-feira (22).
O trabalho foi coordenado por 260 cientistas de 11 países. Entre as
instituições participantes, estão nove da Alemanha, como o instituto de
física Desy; além da Universidade de Wisconsin em Madison, nos EUA, da
Universidade de Uppsala, na Suécia, e da Universidade de Adelaide, na
Austrália. Somente a Alemanha investiu 20 milhões de euros (R$ 62,8
milhões) no projeto.
O IceCube é o maior detector de partículas do mundo, com 5.160
detectores sensíveis pendurados em 86 cabos de aço, em um volume de 1
km³. Segundo o principal autor do estudo, Francis Halzen, os neutrinos
descobertos são partículas fundamentais que quase não têm massa e
raramente interagem com outras partículas. Eles são "mensageiros" de
eventos de altíssima energia ocorridos no Universo, pois conseguem
escapar facilmente de ambientes densos, como o núcleo de explosão de uma
supernova (estrela gigante no fim da vida) ou o interior de
aceleradores de partículas cósmicas.
Os neutrinos emitidos no colapso da famosa supernova 1987A, por
exemplo, atingiram a Terra cerca de 3 horas antes que um raio de luz
vindo dela. De acordo com Markus Ackermann, chefe do grupo especializado
em neutrinos do instituto Desy, as partículas identificadas na
Antártica têm energias milhões de vezes maiores que os provenientes da
supernova 1987A.
Neutrino com maior carga de energia já observado
por cientistas (Foto: IceCube Collaboration)
por cientistas (Foto: IceCube Collaboration)
Segundo os cientistas, os neutrinos voam através da matéria tão
facilmente que inúmeros deles conseguem penetrar a Terra a cada segundo,
sem deixar vestígios. Muito raramente, acabam colidindo com outras
partículas. Por isso, para observá-los são necessários detectores
gigantes, também chamados de módulos ópticos, que são sensíveis às
fracas ondas de luz geradas por esses choques.
Os primeiros indícios de neutrinos extraterrestres de alta energia
vieram com a descoberta inesperada feita pelo IceCube, em abril do ano
passado, de dois eventos – apelidados de "Ernie" e "Bert". Uma análise
detalhada desse achado foi publicada na revista científica "Physical
Review Letters".
Na opinião de Ackermann, talvez a ciência esteja experimentando agora o
nascimento da astronomia de neutrinos. De acordo com Olga Botner,
colaboradora da Universidade de Uppsala, essas 28 partículas ainda
representam um pequeno número de eventos, e a equipe está trabalhando
para melhorar a compreensão do que esse sinal significa e de onde vem.
Com um aumento no número de eventos, a equipe espera identificar outras
fontes de neutrinos de alta energia no Cosmos.
Concepção
artística do IceCube abaixo do gelo da Antártica. Dentro dele, há um
total de 5.160 detectores sensíveis pendurados por 86 cabos de aço em 1
km³ (Foto: Jamie Yang, The IceCube Collaboration)
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