quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Brasileira descobre "orfanato" de estrelas

Bolhas azuis encontradas em região vazia entre duas galáxias que quase colidiram são aglomerados de astros mais jovens.

Formações reveladas pelo telescópio Hubble podem ser origem da "poluição" de elementos mais pesados espalhados pelo Universo.

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma astrônoma brasileira da Nasa anunciou ontem ter encontrado um conjunto de estrelas "órfãs", nascidas fora de grandes galáxias. Duilia de Mello, cientista do Centro Goddard de Vôos Espaciais, da agência americana, descobriu esses pequenos aglomerados de estrelas jovens na forma de bolhas azuis no espaço sideral.
O "orfanato" estelar foi identificado pela brasileira ao cruzar imagens do satélite Galex, que capta luz ultravioleta, e do Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA, que "enxerga" ondas de rádio.
"Eu tinha visto as bolhas azuis com o Galex, mas com as imagens de rádio vi que havia mais alguma coisa ali", disse Mello. A região era uma nuvem de hidrogênio, local onde normalmente se formariam estrelas. Mas era rarefeita demais para ser um berçário viável.Astrônomos russos já tinham olhado para aquela área do espaço na década de 1980, mas com um telescópio menos potente. "Na época, apareciam umas duas ou três estrelas, mas com o [telescópio] Hubble nós pudemos ver que são 2.000", disse Mello.
A descoberta foi anunciada no encontro anual da AAS (Sociedade Astronômica Americana), no Texas.O Hubble foi crucial para a descoberta de Mello, detalhada em estudo a ser publicado na revista "The Astronomical Journal". Só com as imagens do telescópio espacial foi possível descobrir as idades das estrelas vistas.
Como elas são "jovens" com menos de 30 milhões de anos (daí sua coloração azul), só podem ter sido produzidas ali, e não importadas de galáxias próximas.Ao lado das imagens da descoberta, os cientistas também apresentaram uma proposta de explicação para o fato de o grupo de estrelas ter nascido "no meio do nada". Normalmente, a formação estelar ocorre em zonas de alta densidade de gases, e tais regiões só existem dentro das galáxias. As bolhas azuis encontradas por Mello não estão em uma região como essa, mas vivem uma condição especial. Elas estão no meio de duas galáxias próximas, que se deslocam e interagem entre si por meio da força da gravidade, dando origem a fenômenos inusitados.
Alguns astrônomos acreditam que as duas galáxias (e mais uma galáxia-anã) passaram "de raspão" uma perto da outra há cerca de 200 milhões de anos, num evento em que umas "roubaram" algumas estrelas da borda das outras.
A quase-colisão também criou uma zona de turbulência na área de gás rarefeito, possibilitando então que algumas estrelas nascessem em região menos densa. Na fronteira turbulenta, a matéria conseguia se agregar com mais facilidade.
Segundo Mello, a existência de estrelas desse tipo pode explicar por que o Universo está "poluído" com nuvens de elementos mais pesados que hidrogênio e hélio (e que fornecem a matéria-prima para a formação de planetas).Esses elementos são produzidos nos núcleos de estrelas velhas e expelidos quando elas morrem. A morte de estrelas dentro de galáxias, porém, não deixa sujeira espalhada, pois ela é contida pela gravidade galáctica. (RAFAEL GARCIA)
Fonte: Folha de São Paulo
Colaboração: Izabel Macedo
Post: Lucimary Vargas

Céu do Mês de Janeiro - Visão Geral - Zênite

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