Consórcio internacional está desenvolvendo o Giant Magellan Telescope.
Fapesp está avaliando projeto e pode conceder apoio financeiro.
Mariana Lenharo
Do G1, em São Paulo
Ilustração
projeto de Giant Magellan Telescope (GMT): instrumento terá 7 espelhos
primários de 8,4 metros de diâmetro cada um, totalizando 25 metros de
diâmetro. (Foto: Giant Magellan Telescope/Divulgação)
Um consórcio internacional para a construção de um dos três telescópios
gigantes que estão sendo planejados para os próximos anos está buscando
o apoio do Brasil para ser concretizado. O Giant Magellan Telescope
(GMT) – que deve ser instalado no Observatório Las Campanas, no Deserto
do Atacama, no Chile – deve ter um espelho de 25 metros e apresentar uma
resolução dez vezes maior do que a do telescópio espacial Hubble.
Hoje, o consórcio que gerencia o projeto já reúne 9 parceiros, entre
eles instituições dos Estados Unidos, da Austrália e da Coreia. Mas,
para financiar o projeto completo, são necessários outros três sócios. A
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) está
atualmente avaliando a possibilidade de desembolsar uma quantia
equivalente a R$ 115 milhões (ou US$ 50 milhões) para ter uma
participação de 5% no consórcio.
Como contrapartida, pesquisadores do estado de São Paulo cujos projetos
têm apoio da Fapesp ganhariam o direito de utilizar parte do tempo do
GMT quando ele entrar em funcionamento, o que deve começar a ocorrer em
cerca de 10 anos. A função de telescópios da classe do GMT é identificar
com detalhes as características de planetas e fenômenos cada vez mais
distantes no universo.
Wendy Freedman, presidente do GMT, apresenta
projeto na Fapesp, em São Paulo, nesta
quarta-feira (13). (Foto: Eduardo Cesar/FAPESP)
Na última semana, representantes do projeto GMT vieram a São Paulo para
participar de um workshop promovido pela Fapesp para apresentar
detalhes do telescópio gigante para a comunidade científica do país.
Pesquisadores brasileiros da área de astronomia também apresentaram seus
estudos durante o evento e demonstraram de que maneira o acesso ao GMT
poderia contribuir para seus projetos.
De acordo com o pesquisador Hernan Chaimovich, coordenador dos Centros
de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), da Fapesp, o workshop é uma
das etapas de avaliação promovidas pela fundação para avaliar a
possibilidade de apoio. Ele observa que a primeira etapa de análise, já
concluída, foi submeter o projeto ao crivo de pesquisadores de todo o
mundo, o que resultou em um “excelente parecer”, segundo ele.
Mas ainda restam, segundo Chaimovich, algumas questões a serem
esclarecidas antes de a Fapesp fechar o apoio, como ter garantias de que
os pesquisadores brasileiros terão acesso adequado ao GMT e de que a
chance de sucesso na construção do telescópio supere os potenciais
riscos. “É preciso ter claro de que maneira a participação no projeto
vai beneficiar as pesquisas realizadas no estado de São Paulo e se os
riscos devem valer a pena para o contribuinte paulista”, disse o
pesquisador durante o evento.
A Fapesp afirma que ainda não há previsão de quando será concluída a
avaliação do projeto ou anunciada a decisão final da fundação.
Outros projetos
Existem outros dois projetos de telescópios gigantes no mundo: o
European Extremely Large Telescope (E-ELT) e o Thirty Meter Telescope
(TMT). O Brasil ainda decide atualmente se vai ou não ser um dos
parceiros no projeto do E-ELT, coordenado pelo Observatório Europeu do
Sul (ESO). Em 2010, o então ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia,
Sergio Rezende, assinou o contrato de adesão, mas o processo ainda
precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional.
Caso a participação brasileira seja aprovada, o custo de adesão inicial
que o Brasil deve quitar é de 130 milhões de euros, fora as
contribuições anuais que já passaram a ser contabilizadas desde 2010.
Adesão ao consórcio do GMT custa US$ 50 milhões.
(Foto: Giant Magellan Telescope/Divulgação)
Para o astrônomo Cássio Barbosa, professor da Universidade do Vale do
Paraíba (Univap), seria importante que o Brasil aderisse ao consórcio do
GMT. “Neste momento, estamos em decisão sobre entrar no consórcio
europeu (do E-ELT) ou não. O que está acontecendo é que todos os
consórcios para telescópios gigantes estão encerrando as adesões. Se o
Brasil não tomar uma decisão rápida, corremos o risco de perder essa
onda de novos telescópios e passar talvez 20, 30 anos para que venha a
próxima onda de projetos”, diz.
Barbosa explica que, atualmente, os pesquisadores brasileiros têm
acesso a telescópios de 8 metros, que são considerados muito grandes. A
próxima geração de telescópios, que são os gigantes, tem entre 25 metros
(o GMT) e 39 metros (o E-ELT).
“Eles servem para ver as coisas em detalhes muito maiores. Com esse
telescópio, teria como observar planetas do tipo da Terra, muito
próximos a estrelas, que tivessem condições de desenvolver vida. Ou
então ir cada vez mais longe, no fundo do universo e ver as primeiras
galáxias se formando e ir voltando no tempo para ver como o universo
começou a brilhar.”
Menos riscos
Para a pesquisadora Wendy Freedman, presidente do GMT, o projeto tem
poucos riscos, já que os principais desafios técnicos já foram
superados. O telescópio será constituído por 7 espelhos primários com
8,4 metros de diâmetro cada um. Cada um dos espelhos primários terá um
espelho secundário correspondente, de diâmetro menor. O primeiro dos
espelhos já foi desenvolvido, polido e testado. Dois outros espelhos
estão em processo de fabricação e o material do quarto espelho já foi
comprado.
“Nós já testamos os componentes primários de engenharia que serão
usados no telescópio. Em termos de seu diâmetro, ele é menor. Por isso,
no total, ele tem o menor custo e os menores riscos técnicos em
comparação com os outros projetos”, diz Wendy.
Ela afirma que a adesão ao projeto seria importante para os jovens
pesquisadores brasileiros. “Haverá no máximo três telescópios gigantes
no mundo e este estará na primeira linha. Será uma oportunidade
incrível, especialmente para os astrônomos mais jovens do Brasil, que
poderão estar na primeira linha da Astronomia.”
GMT será construído no deserto do Atacama, no Chile.
(Foto: Giant Magellan Telescope/Divulgação)