quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Universitários descobrem a estrela com planeta mais quente já registrada

Três estudantes da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, descobriram a mais quente estrela que possui um planeta em sua órbita. A Organização Européia Pesquisa Astronômica no Hemisfério Sul (ESO, em inglês) divulgou nesta quinta-feira (4) uma reprodução artística do planeta OGLE-TR-L9b e seu sol. Por coincidência, o planeta também é o mais rápido já registrado. Ele dá a volta na estrela em 2,5 dias. A distância entre os dois é de 3% se comparada com a relação entre a Terra e o Sol.


O planeta possui cinco vezes a massa de Júpiter e, por estar perto da estrela, é quente com atmosfera inchada e turva. (Foto: ESO/H. Zodet)

G1/AFP

Detecção de vapor d'água em planeta anima busca por vida fora da Terra

A astronomia é capaz de coisas incríveis. Os cientistas mal conseguem enxergar com seus telescópios estes planetas que giram ao redor de estrelas distantes. Mas em compensação já estão conseguindo até dizer que componentes existem em sua atmosfera. E duas detecções muito importantes acabam de ser feitas -- cientistas encontraram gás carbônico e, melhor ainda, vapor d'água, num mundo a 63 anos-luz daqui.


Concepção artística de 'Júpiter Quente', planeta que gira muito próximo de sua estrela, como o HD 189733b (Foto: Nasa)

Os protagonistas da descoberta são os telescópios Hubble e Spitzer, satélites da Nasa, agência espacial americana, que orbitam ao redor da Terra. E a vítima da espionagem cósmica é o HD 189733b, nome pouco charmoso para designar um chamada "Júpiter Quente", um planeta gigante gasoso que gira muito próximo de sua estrela-mãe (que, adivinha só, se chama HD 189733). Para que se tenha uma idéia de quão perto, basta dizer que ele completa uma volta em torno da estrela em pouco mais de dois dias terrestres. Isso mesmo, o ano lá dura dois dias. Caso houvesse alienígenas vivendo naquele mundo, eles passariam o tempo todo alternando entre o dia 31 de dezembro e o 1° de janeiro. Só alegria, né? Mas pagariam o preço tendo de sobreviver aos cerca de 900 graus Celsius resultantes dessa proximidade com a estrela. Tudo bem que muita gente gosta de verão e feriado, mas não exageremos, certo? Falando sério: por conta das altas temperaturas (para não falar da pressão e gravidade violentíssimas desse mundo gigantesco, muito maior do que a Terra), os cientistas têm forte convicção de que não existe vida -- ao menos como a conhecemos -- no planeta. Entretanto, os resultados, que foram apresentados ao longo desta semana pela Nasa e num artigo publicado na edição desta semana do periódico científico "Nature", têm tudo a ver com a busca por vida fora da Terra. Para esclarecer isso, basta refletir sobre o seguinte problema: como um ET, a vários anos-luz daqui, monitorando a Terra de muito longe, poderia concluir que nosso mundo abriga vida? A chave está na composição da atmosfera. Um planeta sem vida, por exemplo, não pode manter os níveis atmosféricos de oxigênio presentes na Terra. E que forma de vida pode viver sem água? Vapor d'água é um importantíssimo sinal a ser buscado na atmosfera de outro mundo. Outros gases, como metano e gás carbônico, também podem denunciar atividade biológica -- mas não necessariamente. Enfim, se um astrônomo ET olhasse para a Terra e detectasse os componentes de sua atmosfera, poderia dizer com certeza que há criaturas fazendo fotossíntese e produzindo oxigênio regularmente no planeta. E é desse mesmo modo que provavelmente encontraremos os primeiros indícios de vida fora do Sistema Solar. Não observando um "Jupiter Quente", como o HD 189733b, mas um planeta mais parecido com a Terra. Dificuldades de observação Ocorre que, ao menos no momento, somente uns poucos planetas se prestam a esse tipo de sondagem. Como mencionado antes, é muito difícil detectar a luz vinda de um planeta fora do Sistema Solar (e, portanto, enxergá-lo). Isso ocorre porque sua estrela-mãe, muito próxima dele no céu, tem um brilho que ofusca demais. Sem detectar a luz vinda do planeta, fica impossível buscar nela as "assinaturas" dos componentes presentes em sua atmosfera. Mas há alguns casos que se salvam: são os que o sistema planetário está de tal forma alinhado com a Terra que o planeta passa rotineiramente à frente de sua estrela, conforme avança em sua órbita. Nos casos em que ocorrem esses chamados "trânsitos", os astrônomos podem usar um truque para identificar a luz vinda do planeta. Monitoram a luz vinda da estrela quando o planeta não está à frente dela e depois comparam com a luz vinda quando planeta e estrela estão juntos. Com isso, conseguem subtrair exatamente a parte que pode ser atribuída à estrela. O que sobra, naturalmente, veio do planeta. Foi exatamente essa a situação em que foi encontrado o HD 189733b, e por isso ele está sendo o grande "campeão" na análise atmosférica de um mundo fora do Sistema Solar. Além de gás carbônico e água, estudos anteriores já haviam detectado também metano em sua atmosfera. E os cientistas esperam que essa linha de pesquisa só vá crescer nos próximos anos, conforme planetas rochosos -- mais parecidos com a Terra -- sejam detectados por diversos projetos que buscam exatamente astros que façam trânsitos (é o caso do satélite francês Corot, que já está operando e tem participação brasileira). "Quando encontrarmos esse planeta, usaremos o Telescópio Espacial James Webb [sucessor do Hubble, ainda em fase de construção] para medir seu espectro", comenta Drake Deming, astrônomo da Nasa que comentou a descoberta para o periódico "Nature". Aí a busca por vida fora da Terra realmente deve esquentar, e muito.

Salvador Nogueira Do G1, em São Paulo

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