terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A lua com gêiseres de vapor que pode ter a melhor condição para vida depois da Terra

Jonathan AmosCorrespondente de Ciência da BBC News


O "encanamento" dos jatos de vapor de Enceladus leva a um oceano subterrâneo que pode atingir 40 km de profundidade (Foto: Nasa)

A sonda Cassini, um projeto conjunto da Agência Espacial Europeia (ESA na sigla inglesa) e da Agência Espacial americana (Nasa), fez descobertas incríveis em Saturno, mas nenhuma supera as revelações extraordinárias sobre Enceladus.
O que esse satélite movido a plutônio já viu nessa lua congelada de 500 km de diâmetro é surpreendente.
A Cassini detectou grandes jatos de vapor d'água e outros materiais jorrando de rachaduras no polo sul da lua de Saturno.
É um espetáculo único no Sistema Solar, afirma Carolyn Porco, que coordena o sistema de câmeras da espaçonave.
"Brincamos entre a nossa equipe que encontramos o 'parque interplanetário de gêiseres de Enceladus', e que gerações futuras poderão ir para lá em férias", afirmou.
Brincamos entre a nossa equipe que encontramos o 'parque interplanetário de gêiseres de Enceladus', e que gerações futuras poderão ir para lá em férias"
Carolyn Porco, coordenador do sistema de câmeras da sonda Cassini
Mas pesquisadores não estão brincando ao afirmar que esse pequeno mundo está entre os melhores locais para se buscar vida fora da Terra.
O "encanamento" dos jatos de vapor leva a um amplo reservatório de água que pode atingir até 40 km de profundidade.
Os instrumentos da Cassini puderam mostrar, sobrevoando e analisando as emissões de materiais, que as condições e a química desse oceano subterrâneo podem dar suporte à vida microbial.
Há fortes indícios de que a água esteja interagindo com rochas no leito do oceano, para produzir o tipo de coquetel de nutrientes que poderia alimentar pequenos organismos.
"Eu me interesso há décadas pela busca por vida no Sistema Solar e ainda estou espantado com o que estamos vendo em Enceladus. É um pequeno mundo tão distante da Terra, expelindo uma riqueza de material orgânico, água e indícios de habitabilidade. É surpreendente, e as amostras estão bem ali, livres para coleta", disse Chris McKay, astrobiólogo da Nasa.

Mas mesmo com toda sua capacidade, a Cassini, com sua tecnologia dos anos 1980 e 1990, não pode comprovar em definitivo a presença de micróbios sob a superfície gelada de Enceladus. A sonda foi lançada em outubro de 1997 e chegou a Saturno em julho de 2004.
Para isso, seria preciso um outro tipo de satélite, com sensores especiais.
A Cassini irá fazer uma última manobra de aproximação da lua na próxima semana para coletar uma leva final de imagens detalhadas da superfície.
Depois irá se deslocar pelo sistema de Saturno em preparação para observações finais do planeta dos anéis.
Então estamos quase dando adeus a Enceladus, e - claro - isso já motiva conversas sobre como podermos voltar um dia com equipamentos mais potentes.
O "encanamento" dos jatos de vapor de Enceladus leva a um oceano subterrâneo que pode atingir 40 km de profundidade
Jonathan Lunine é um cientista interdisciplinar na missão Cassini na Universidade Cornell, nos EUA. Ele desenvolveu um conceito para uma espaçonave que chamou de ELF (Enceladus Life Finder, ou localizador de vida de Enceladus, em tradução livre).
Seria uma sonda menor do que o satélite gigante que hoje orbita Saturno, mas a perda em tamanho (e custo) seria compensada pela sofisticação.
Seus instrumentos seriam voltados à análise do conteúdo dos jatos de vapor para verificar qualquer componente químico associado a processos biológicos.
"Com espectrômetros de massa potentes, poderíamos detectar e identificar aminoácidos (matéria prima das proteínas)", afirma.
"Teríamos capacidade de detectar ácidos graxos presentes em membranas de células de bactérias; e seus 'primos', os chamados isoprenóides, que estão na membrana das arqueobactérias, esses micróbios que habitam ambientes extremos da Terra.
"Também poderíamos contar o número de carbono dos jatos para verificar se seguem o padrão de vida. E finalmente mediríamos os isótopos (espécies do mesmo elemento químico, de mesmo número atômico e diferentes números de massa) de todo o carbono, nitrogênio e oxigênio, para ver se a química é parecida com a que ocorre na Terra, onde organismos preferem os isótopos mais leves ao processar esse material em seus sistemas."
Desafios futuros
O ELF foi submetido a uma competição recente da Nasa para selecionar missões planetárias futuras, mas não foi escolhido. Um dos problemas em empreitadas desse tipo é a disponibilidade de energia em um ponto tão longe do Sol (1,4 bilhão de km).

A sonda Cassini utiliza uma "bateria nuclear", movida a plutônio-238, para todas as suas demandas de energia. Essa fonte é cara e hoje praticamente não existe mais - o isótopo não existe naturalmente e parou de ser fabricado após o fim da corrida nuclear no mundo.
Painéis solares são uma opção, porém o desafio é grande: a intensidade da luz do Sol em Enceladus é um centésimo da que atinge a Terra.
Apesar disso, a possibilidade de voltar a essa lua branca e brilhante de Saturno é tão instigante que um caminho certamente será descoberto. Não só porque Enceladus é um dos melhores lugares para a busca de vida extraterrestre - é também o mais fácil.
A sonda Cassini, com tecnologia dos anos 1980 e 1990, não pode comprovar em definitivo a presença de vida em Enceladus
Diferentemente de Marte ou de Europa (lua de Júpiter), em Enceladus não há necessidade de pouso e perfuração do solo para coleta e análise de amostras. As amostras são permanentemente lançadas no espaço pelos jatos do polo sul.
Peter Tsou, do laboratório de propulsão de foguetes do Instituto de Tecnologia da Califórnia, tem um projeto para trazer essas amostras de volta à Terra para avaliação mais detalhada em laboratórios de ponta.
Sua missão se baseia no modelo da sonda Stardust da Nasa, que em 2006 coletou amostras de poeira de estrelas e cometas.
Naquela ocasião, Tsou usou um arranjo de espuma de dióxido de silício, chamado aerogel, para coletar as amostras enquanto a sonda Stardust voava por nuvens de gás e poeira dos objetos.
"Na Stardust, eu lancei aerogel em cubos de 2x4x3 cm. Tinha 132 deles. E descobri que um ou dois cubos já davam conta do recado", recorda.
"Então não precisamos de muitos (cubos de aerogel). Contudo, o desafio é a dimensão reduzida das amostras, e que estamos tratando de vida. Qualquer contaminação da Terra pode arruiná-las, porque poderíamos descobrir (após a análise) 'É a minha saliva!'", afirma.
Tsou calcula que uma missão de coleta de amostras de Enceladus poderia levar 14 anos, do lançamento à presença de material lunar em um laboratório na Terra.
Origem da vida
"Se descobrirmos vida em um lugar como Enceladus obviamente será algo simples, como vida microbiana", afirma Carolyn Porco.

"Claro que seria fascinante se descobríssemos lagostas; quem sabe? Talvez", afirma a pesquisadora. "Mas estamos mirando em algo simples, apenas provas de vida microbiana."
"Seria uma mudança de paradigma. Qual o tipo de vida que existe ali? É como a vida na Terra ou não? É baseada no DNA ou não? Seria uma descoberta enorme, provavelmente a maior descoberta científica que possamos fazer. Temos que voltar."
Para Jonathan Lunine, se Enceladus revelar sinais de vida, isso trará a certeza de que "a vida teve uma segunda origem".
"Mas isso também nos permitirá, acredito, mover nossa atenção para a galáxia, e perceber que se a vida pode começar duas, três ou quatro vezes em nosso próprio Sistema Solar, quantos planetas habitáveis na galáxia devem ter vida hoje?"

Satélite a quase 2 milhões de km da Terra captura imagem inédita de eclipse lunar

Espaçonave tem câmera sempre focada na face iluminada da Terra, e registrou imagem ao mirar na Lua para calibragem do equipamento.


Jonathan AmosCorrespondente de Ciência da BBC News, de São Francisco (EUA)

Da BBC -



Um satélite americano estacionado a um milhão de milhas (1,6 milhão de km) da Terra conseguiu um registro único de um eclipse lunar. 
Lançada em fevereiro, a espaçonave DSCOVR tem uma câmera focada constantemente na face iluminada da Terra.

As imagens são usadas para rastrear elementos móveis, como nuvens e tempestades de areia, e para monitorar o clima.
Mas, em 27 de setembro, o satélite estava na exata posição para ver a Lua passar atrás da Terra e por sua sombra.
Em solo, observadores do céu viram o corpo lunar se transformar em uma sombra vermelha. Isso ocorre porque alguma luz solar ainda atinge a superfície da Lua após ser filtrada pela atmosfera terrestre.
"Nossa câmera é normalmente focada na Terra, mas usamos a Lua para calibragem", disse Jay Herman, o principal investigador da Nasa (agência espacial americana) no sistema de câmeras do DSCOVR, chamado Epic.
"Isso é o que estávamos fazendo naquele momento. Estávamos focando na Lua e a Terra entrou na frente cerca de quatro horas antes de o eclipse ser visto em nosso planeta. Isso é porque estávamos em uma posição angular, bem ao lado da linha Sol-Terra."
 As nuvens produzidas por navios no Pacífico podem ser vistas a um milhão de milhas de distância  (Foto: NASA)As nuvens produzidas por navios no Pacífico podem ser vistas a um milhão de milhas de distância (Foto: NASA)
"A Terra está em rotação quando passa. É algo único porque você pode observar o movimento das nuvens", disse Herman durante encontro da União Americana de Geofísica, em São Francisco (EUA).
Relatórios mostram que o satélite DSCOVR está em ótimo estado.
Um de seus objetivos é mapear o comportamento das nuvens. Os diferentes filtros de onda do sistema permitem estimar a altura das nuvens. Isso é importante para monitorar sistemas meteorológicos e entender o impacto das nuvens no clima. Algumas ajudam a resfriar o planeta ao refletir a luz solar de volta para o espaço, enquanto outras esquentam a Terra ao conservar calor.
Neste trabalho, o sistema Epic já detectou coisas inesperadas, como o rastro de navios. Não são as ondas produzidas por embarcações, mas as nuvens que seus sistemas de exaustão lançam na atmosfera.
"Foi surpreendente para nós poder observar isso a um milhão de milhas, e as imagens são melhores quando usamos um comprimento de onda maior, porque isso fornece um maior contraste com a escuridão do oceano", disse Alexander Marshak, cientista do projeto.
Um dos instrumentos do satélite, hoje em fase de testes, é um radiômetro que mede o total de energia solar refletida na Terra, bem como o calor emitido pelo planeta.
Principal investigador dos dados fornecidos por esse equipamento, Steven Lorentz, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA, diz que a quantidade de energia solar refletida depende dos continentes e oceanos em foco. A Terra refletia mais calor, segundo ele, quando a África estava em foco (superfícies terrestres são mais brilhantes do que superfícies marítimas), e a Antártica também ficava visível durante o verão no hemisfério sul.
"Os dois polos do planeta aparecem de forma muito visível nos dados. Quando a Terra está inclinada nesta ou naquela direção, isso faz realmente diferença no albedo planetário (poder de reflexão da luz solar). Isso só reforça a importância do gelo para o clima, porque se os polos não estivessem ali, ou se diminuírem, a quantidade de energia (calor) no sistema irá aumentar."
Segundo outro membro do projeto, o cientista Adam Szabo, as medições do satélite não são novidade, pois também são feitas por equipamentos que orbitam a Terra. A vantagem está, diz, no posicionamento do DSCOVR.
"Posicionado entre o Sol e a Terra, o satélite enxerga toda a face iluminada da Terra todo o tempo, permitindo à Terra rotacionar em torno do equipamento em vez de o satélite girar ao redor do planeta."
 Esta é a face da Terra, com a África e a Antártica, que reflete a maior quantidade de energia solar  (Foto: NASA)Esta é a face da Terra, com a África e a Antártica, que reflete a maior quantidade de energia solar (Foto: NASA)

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