Imagem da nebulosa RCW 120 revela nascimento de estrela gigante. (Foto: ESA/Divulgação)
Agencia EFE - Herschel, o telescópio maior já lançado ao espaço, começou a fornecer dados surpreendentes sobre o universo profundo, que estão mudando a compreensão que os astrônomos tinham até agora da origem das estrelas e a evolução das galáxias.
Engenheiros e cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) apresentaram hoje em Noordwijk (Holanda) os primeiros resultados obtidos da análise de seus dados, quando está prestes a completar um ano do lançamento deste observatório, fruto da cooperação de mais de 20 países europeus.
As gêneses de uma estrela "impossível", a descoberta de distâncias inimagináveis de vapor de água ionizado - o chamado "quarto estado" -, ou a constatação que o ritmo de formação de estrelas se arrefeceu, são alguns dos resultados debatidos nesta semana em Noordwijk pela comunidade científica e apresentados hoje aos meios de comunicação
Radiação infravermelha
A partir do espaço, longe do muro que representa a atmosfera terrestre, Herschel oferece aos astrônomos imagens mais distantes do universo (e primitivas), captadas por meio da radiação infravermelha.
Seu "olho", de uma resolução e sensibilidade inigualável, pode penetrar até as regiões mais frias do universo, completamente opacas aos demais telescópios.
É a mesma sensação do camponês que entrava em uma catedral na época medieval, comentou durante a apresentação David Southwood, diretor de Ciência e Prospecção Robótica da ESA.
Os astrônomos que decifram os dados de Herschel se sentem, insistiu Southwood, como autênticos pioneiros, como o marinheiro de Cristóvão Colombo quando avistou o Mundo Novo.
Nestes meses, Herschel revelou milhares de galáxias e nuvens da Via Láctea imersas no processo de formação de estrelas.
'Impossível'
Uma de suas observações, na nebulosa RCW 120, revelou pela primeira vez em estado embrionário uma estrela "impossível", isto é, um astro com uma massa 8 vezes superior a do sol, algo que segundo as teorias astrofísicas atuais não ocorria.
Os cientistas calcularam que o objeto contém "já" entre 8 e 10 vezes a massa do sol e que está rodeado do equivalente a 2 mil massas solares de gás e pó que seguirão alimentando-se até transformá-lo, dentro de centenas de milhares de anos, em uma das estrelas maiores e brilhantes da Via Láctea.
Sabia-se da existência desses "monstros", mas nunca se tinha conseguido observar seu estádio inicial. Graças a Herschel, os astrônomos vão poder investigar onde falham as teorias que não permitem a existência de tais astros.
Conhecer o processo de formação das estrelas mais maciças é fundamental porque são as que controlam, através da gravidade, a dinâmica e as transformações químicas que se produzem dentro da galáxia, segundo explicou a professora Annie Zavagno, do Laboratório de Astrofísica de Marselha.
Evolução de galáxias
Herschel também está demonstrando que as galáxias evoluíram ao longo do tempo cósmico muito mais velozmente do que se imaginava. Os dados mostram que no passado nasceram diversas estrelas a um ritmo entre 10 e 15 vezes mais rápido que a Via Láctea na atualidade.
O telescópio espacial europeu se revelou igualmente um instrumento de vital importância para a detecção de moléculas no cosmos e descobriu uma nova fase de água, o chamado "quarto estado".
Nesta fase, a molécula de H2O está carregada eletricamente e, ao contrário das outras três (sólida, líquida e gasosa), não aparece de forma natural na Terra.
Nas nuvens que rodeiam as estrelas jovens, onde a luz ultravioleta é bombardeada através do gás, a radiação arranca um elétron da molécula de água e a deixa carregada positivamente.
"Descobrimos que a água está em todas as partes", afirmou Xander Tielens, da Universidade de Leiden.
Para o diretor da ESA David Southwood "um novo universo" está emergindo desde que o telescópio europeu começou a proporcionar material."Após um ano de operações, já não tenho dúvidas: superou todas minhas expectativas", disse.
Na prospecção desse novo mundo visto pelo Herschel, os cientistas trabalham contra o relógio, porque o observatório tem uma expectativa de vida curta, deixará de enviar dados em dois ou três anos, quando acabar o hélio que utiliza para esfriar seus instrumentos.
Southwood elogiou a cooperação espacial europeia e o "círculo virtuoso" que permite aos astrônomos decifrar as grandes dúvidas do cosmos enquanto proporcionam aos engenheiros da ESA desafios e objetivos para fazer com que avanço a tecnologia.