Crédito: ESO
Hoje, um recorde foi batido. Não é recorde brasileiro, nem mundial: é um recorde universal! Qual seria a estrela com a maior massa já conhecida? Hoje saiu uma resposta.
As estrelas, de modo grosseiro, podem ser classificadas com base em duas variáveis: seu raio e sua massa. A quantidade de matéria presente em uma estrela, com tamanho caracterizado pelo seu raio, também define sua temperatura e luminosidade. Saber a massa de uma estrela significa saber muita coisa a seu respeito, por isso é um dado muito importante na pesquisa deste tipo de objeto. As estrelas são definidas em categorias (tipos espectrais, para ser mais exato), cada uma delas é determinada por uma certa luminosidade, temperatura e massa. Na verdade as três grandezas estão interligadas. É possível, a partir de uma delas, obter as outras através de modelos teóricos.
Saber a massa de uma estrela também significa saber o seu tempo de vida. Estrelas mais massivas são mais quentes, queimam rapidamente sua reserva de hidrogênio e vivem pouco. Uma estrela com 50 vezes a massa do Sol vive por volta de 3 milhões de anos. Já uma estrela como o Sol, por exemplo, tem pouca massa, é mais fria e vive uns 10 bilhões de anos. Existe bastante discussão sobre qual seria a massa mínima para que um corpo celeste seja considerado uma estrela. Com uma definição menos rígida, a maioria dos exoplanetas já descobertos poderiam ser considerados estrelas. Já na ponta de cima a pergunta é outra: qual seria o limite de massa para uma estrela?
Esse limite foi estabelecido, teoricamente, em 150 massas solares e, desde então, astrônomos que pesquisam estrelas massivas passaram a procurar por corpos celestes assim. Não é fácil procurar por astros como esses. Primeiro por que são raros, para cada estrela de 100 massas solares, deve haver um bilhão de estrelas como o Sol. Em segundo lugar, elas vivem pouco. Formam-se, vivem sua glória e explodem em supernovas dentro de apenas 3 milhões de anos. Em terceiro lugar, quando temos a sorte de detectar uma dessas ainda em vida ela já “emagreceu”.
Diferentemente dos seres humanos (principalmente eu), as estrelas perdem massa ao longo da sua vida, através de ventos estelares. Quanto mais quente, mais intensa é a perda de matéria. Até agora, o recorde era em torno de 90 massas solares, aplicando-se alguns modelos evolutivos, chegamos à conclusão que essa estrela tinha no seu nascimento pouco mais que 150 massas solares. Ela está em um aglomerado da nossa Galáxia chamado NGC 3603, a 20.000 anos-luz de distância.
Como eu disse, esse era o recorde. Hoje saiu o resultado de uma pesquisa de um amigo meu, Paul Crowther, professor da Universidade de Shefield. Nesse artigo, ele afirma ter encontrado uma estrela de 265 massas solares! Esse monstro, como Crowther a chama, está na Nebulosa da Tarântula na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite a 165 mil anos-luz de distância.
Diferente do valor da massa da estrela de NGC 3603 que foi obtida por gravitação simples e por isso é muito confiável, a massa de R136a1 (como foi batizada) foi obtida através de vários modelos computacionais. Esse modelos se utilizam de várias aproximações para simplificar a física. Ainda assim, já vi modelos do Crowther rodando durante uma semana para que saísse algum resultado. Será que essas simplificações não teriam produzido um resultado errado?
A resposta é sim, poderiam. Mas Crowther e seus colaboradores rodaram esses mesmos modelos nos dados da estrela de NGC 3603 para checar os resultados. Obtiveram o mesmo resultado obtido anteriormente através de gravitação simples. Em resumo, os modelos funcionam.
Então o novo recorde foi estabelecido, 265 massas solares. Passando o filme ao contrário, dá para afirmar que essa estrela tinha umas 300 massas solares no momento do seu nascimento e perdeu 35 estrelas como nosso Sol somente por meio do vento estelar, dentro de um período de um ou dois milhões de anos!
Apesar de pesquisar estrelas massivas, meu foco não é pela busca da estrela mais massiva, mas sim como esses corpos celestes são formados. O recorde de massa para uma estrela em formação (até onde eu saiba) é de 90 massas solares e foi resultado de um trabalho meu. Para essa estrela já é dificíl explicar sua formação. Imagino como vai ser para tentar explicar como R136a1 se formou!
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