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 divulgada pela Reuters mostra peça que caiu do foguete Longa Marcha 4B,
 veículo que levou o satélite Cbers-3 ao espaço (Foto: Reuters/Stringer)
 
 
Após a falha no lançamento do Cbers-3, quarto satélite feito em 
parceria por cientistas do Brasil e da China, o adiantamento da produção
 do Cbers-4 para o primeiro semestre de 2015, em vez de 2016, e a 
conclusão do foguete lançador brasileiro, o VLS, serão os carros-chefes 
do Programa Espacial Brasileiro.
 O Cbers-3 foi lançado na última segunda-feira (9), mas uma falha em um 
dos estágios do foguete chinês Longa Marcha 4B prejudicou o equipamento,
 que não alcançou velocidade e altura suficientes para orbitar a Terra 
e, por isso, retornou ao planeta e foi destruído ao entrar na atmosfera –
 uma perda de R$ 160 milhões para o Brasil.
Segundo especialistas ouvidos pelo G1, a imagem do 
programa espacial nacional não ficou manchada após o episódio. “Foi 
fortuito. Dizer que [a falha] não afeta o programa é incorreto, porque 
estávamos com grande expectativa. Mas precisamos estar preparados para 
isso. É um problema a ser contornado e o programa brasileiro não se 
restringe apenas ao acordo com a China”, explica Petrônio Noronha de 
Souza, diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB).
  
Metas a cumprir
 Noronha explica que a antecipação do Cbers-4, que será feito no 
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o cumprimento de duas
 etapas consideradas importantes dentro do cronograma do VLS-1 se 
tornaram prioridades em 2014.
 A montagem e funcionamento do modelo elétrico, que é a reprodução fiel 
do foguete, mas sem o combustível, está prevista para o segundo semestre
 do ano que vem, além da certificação comercial do sistema de navegação 
do foguete. As metas "vão abrir caminho para que o VLS seja completado”,
 diz o diretor.
Os projetos serão realizados com a verba repassada pelo governo à AEB. A
 previsão para 2014 é de orçamento de R$ 295 milhões, valor apresentado 
na Lei Orçamentária Anual que ainda segue em discussão no Congresso.
 
Dinheiro insuficiente
 Em 2013, o montante destinado ao desenvolvimento do lançador de 
foguetes e a produção e pesquisa de novos satélites no Inpe foi de R$ 
345 milhões.
Comparativamente, o dinheiro destinado em 2013 à agência espacial 
americana, a Nasa, principal hub aeroespacial do planeta, foi de R$ 41,2
 bilhões. A agência chinesa, que vem ganhando destaque nos últimos 
tempos com megaprojetos, como uma estação espacial própria, investiu 
neste ano o montante de R$ 4,6 bilhões.
A Índia, outro país que luta para combater a pobreza ao mesmo tempo em 
que almeja consolidar-se como potência global, investiu R$ 2 bilhões em 
seu programa espacial.
“Os R$ 295 milhões são suficientes? Não são. Mas é uma negociação 
integrada a outras prioridades do governo. A AEB entende que suas 
aspirações devem ser conciliadas a outras prioridades nacionais”, 
explica o diretor da agência.
Para Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro, a falta de vontade 
política, o desconhecimento do corpo político do país e da sociedade em 
geral sobre a importância do setor de tecnologia aeroespacial atrasa o 
crescimento deste setor.
“O Brasil está, de novo, perdendo o trem da história. Temos milhares de
 pessoas tentando fazer um programa espacial melhor”, explica o 
astronauta, que, segundo ele, quer voltar ao espaço em breve.
  
'Ainda não há progresso'
 Aydano Carleial, presidente da Associação Aeroespacial Brasileira, 
concorda que o programa não é afetado devido ao problema com o Cbers-3, 
mas ressalta que "há coisas que não progrediram como deveriam".
 "A partir do erro se progride, mas não vemos ainda um progresso", disse
 ele referindo-se a outros problemas que afetaram o programa, como a 
explosão do VLS na base de Alcântara (RN), em 2003, que matou 21 
técnicos. "Deveria ter sido feita uma reorganização do programa de 
lançadores, não só criando novas ideias, mas analisando profundamente 
esse mercado, sua tecnologia e os tipos de propulsão.
Ele cita ainda como exemplo a necessidade de abrir para a sociedade a 
discussão sobre o que é e será feito neste setor e alega falta de 
participação da academia no desenvolvimento aeroespacial nacional.
"É preciso ter uma vontade maior do governo para profissionalizar essa 
questão, de forma que, se queremos fazer um foguete, imediatamente 
haverá um debate e comparação com o que é feito em outros países. Não 
pode haver um programa em segredo", avalia Carleial.
Satélite
 Cbers-3 durante testes no Laboratório de Integração e Testes (LIT) em 
São José dos Campos (SP), antes de ser mandado para a China, de onde foi
 lançado esta semana.  (Foto: Divulgação/Inpe)