domingo, 3 de agosto de 2014

'Aula de astronomia' na Flip tem pedido de mais espaço para ciência

Marcelo Gleiser e Paulo Varella lamentaram pouca divulgação no Brasil.
Vida extraterrestre, astrologia e preservação do planeta foram o tema.





Cauê MuraroDo G1, em Paraty
"Marcelo, alguém na plateia pede para você falar um pouco de mecânica quântica", disse a certa altura o mediador da mesa que abriu neste domingo (3) a 12ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Incomum, se levado em conta que se trata de um evento literário, a solicitação se explica pelo tema do debate: ciência e astronomia. Chamava-se "Ouvir estrelas". O Marcelo em questão era o astrônomo e físico Marcelo Gleiser. Conhecido por ter apresentado um quadro sobre o tema no Fantástico, da TV Globo, ele ganhou aplausos e provocou risos durante sua "aula" na Flip. Conversou sobre vida extrarrestre, estimulou a preservação do planeta e pediu espaço para a ciência na TV. Seu companheiro na discussão foi o professor de astrofísica Paulo Varella.
G1 transmitirá ao vivo todas as mesas da Flip 2014, tanto com áudio traduzido (se a palestra não for em português) quanto com áudio original. Veja a programação até domingo ao final desta nota.
Antes de fazer sua exposição inicial, Gleiser pediu licença para ficar de pé, atribuido a opção ao fato de ser professor. Ele dá aula numa universidade dos Estados Unidos. Já ali, deu o tom de sala de aula à tenda dos autores. Muito didático, começou falando de Platão, do mito da caverna, e terminou falando que "nossa realidade é bastante míope". Queria dizer que sabemos pouco do universo e que, mesmo com limitações, a ciência vai atrás de respostas.
O método habitual de Gleiser para ser entendido é este: ele introduz um determinado assunto científico (mecânica quântica, matéria escura, átomos e vai por aí) e, logo em seguida, abre os abraços e diz: "Vamos imaginar que...". Nessas, elétrons viram bolas de gude. Estrelas (as do céu) são como estrelas de Hollywood (os atores e atrizes), pois todas têm "uma morte dramática". E o público aprende, dentre outras coisas, que "o universo nasceu numa terça-feira - há 3,8 bilhões de anos".
Os primeiros aplausos vieram quando ele explicou que a luz das coisas que vemos no céu é algo como "o suor dos átomos fazendo uma dança subatômica". Admitiu, em seguida, que jamais havia pensado naqueles termos. O público aprovou bastante a imagem proposta.
Outra passagem que teve resposta positiva da audiência foi o comentário sobre vida em outras galáxia. Gleiser disse que não queria viajar tão longe e ficou na Via Láctea mesmo. "Você tem que separar as coisas. De que tipo de vida a gente está falando: simples ou complexa?", começou. "A minha aposta é que, certamente, em outros planetas vai haver algum tipo de vida simples. Mas vida inteligente é uma conversa completamente diferente."

Além disso, em termos de distâncias astronômicas, é provável que estejamos sozinhos aqui. Gleiser chama a Terra de "planeta milagroso". "O que a ciência moderna está mostrando é que nós, seres humanos, somos extremamente raros e importantes. Porque somos máquinas moleculares capazes de reproduzir e capaz de refletir sobre quem somos. Somos a materliazação de uma epescie de consciência cósmica. Temos um dever fundamental, que é a preservação da Terra, a preservação da vida a todo custo."

Marcelo Gleiser, que dividiu a mesa com o professor de astrofísica Paulo Varella (à dir.), pediu licença para falar de pé por ser professor (Foto: Flavio Moraes/G1)
Marcelo Gleiser, que dividiu a mesa com o professor
de astrofísica Paulo Varella (Foto: Flavio Moraes/G1)
Libriano
Paulo Varella, que dá aulas de astrofísica no planetário de São Paulo, foi quem respondeu  uma pergunta enviada por alguém que queria saber de astrologia. Ou o que ele achava. Varella se defendeu com uma piada e provocou risos. "Eu sempre costumo dizer o seguinte: 'Não acredito em astrologia; nós, librianos, somos muito céticos."

Na sequência, classificou a astrologia "de, digamos, uma mãe da astronomia". "Nasceu primeiro. Eu procuro não destruir a crença de ninguém. No meu modo de ver, acredito que os planetas não interfiram."
Em mais de um momento, o professor lamentou a inexistência de centros de ciência ou planetários no país. Lamentou ainda que o planetário de São Paulo esteja fechado há 16 meses, com "as estrelinhas arificiais apagadas". Mas, na hora das colocações finais, pediu que as pessoas "não se esqueçam de que as estrelas de verdade" estão no céu todas as noites.
Sobre a divulgação da ciência no Brasil, houve uma outra reclamação (ou pedido), agora feita por Gleiser. Comentou que espaço do tema na TV nos Estados Unidos ou na Europa são bastante superiores. Também citou o quadro que apresentou no Fantástico. "É uma pena que a gente tenha que ficar importando programas de fora, quando a gente podia estar fazendo aqui dentro, com nossa TV e com a nossa linguagem."
Quanto à dúvida sobre mecânica quântica, explicou usando mais uma vez seu método tradicional. "A mecânica quântica é a parte da física que estuda o comportamento dos átomos, das moléculas, das partículas que a gente chama de subatômicas...", enumerou. Aí, a tradução. "No mundo quântico, cada um de vocês poderia estar, em princípio, em vários lugares ao mesmo tempo. E atravessar paredes, fazer coisas assombrosas, digamos assim."
Veja o restante da programação do dia final da Flip 2014:
3 de agosto – domingo
12h – "Romance em dois atos", com Daniel Alarcón e Fernanda Torres; mediação: Ángel Gurría-Quintana

14h – "Os sentidos da paixão", com Almeida Faria e Jorge Edwards; mediação: Paulo Roberto Pires
16h – "Livros de cabeceira" – Convidados da Flip leem e comentam trechos de seus autores favoritos; com: Andrew Solomon, Etgar Keret, Graciela Mochkofsky, Joël Dicker, Juan Villoro, Eduardo Viveiros de Castro, Fernanda Torres e Marcelo Rubens Paiva.

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