sábado, 18 de agosto de 2007

Ano Internacional do Planeta Terra no Brasil


O Ano Internacional do Planeta Terra (AIPT) será em 2008, mas a comemoração vai de 2007 a 2009. A idéia da criação do evento surgiu em 2002, em continuidade ao 31º Congresso Internacional de Geologia, realizado dois anos antes na cidade do Rio de Janeiro. A motivação veio em função dos 50 anos do Ano Geofísico Internacional, ocorrido em 1957, evento que deu início a uma série de estudos sobre a Terra enquanto um sistema integrado. Hoje, mesmo com todo o avanço do conhecimento na área, ainda há muito a ser estudado, e por isso o tema Planeta Terra foi escolhido. Com o apoio de 191 países, incluindo o Brasil, a decisão foi anunciada pela Assembléia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU) no ano passado.


No Brasil, a Academia é responsável por conduzir o tema, e a comissão nacional tem como presidente o Acadêmico Diogenes de Almeida Campos e conta com a participação da Acadêmica Maria Assunção Faus da Silva Dias, além de outros geocientistas. Envolvido no projeto, mas não na Comissão, a "equipe" da ABC ainda inclui o Acadêmico Umberto Cordani , ligado ao ICSU e a programas científicos da Unesco. O geólogo Carlos Oiti Berbert, do MCT, vem tendo decisiva atuação junto à Comissão Brasileira, como representante da União Internacional de Ciências Geológicas (UIGS).


"No âmbito da Comissão, desenhamos duas linhas de atuação: a científica e a de divulgação. Na área científica, esperamos que haja uma ampliação do conhecimento sobre as Ciências da Terra. Em termos de divulgação, esperamos facilitar a compreensão do público sobre o Planeta Terra, através de revistas mais populares sobre o assunto, filmes, livros, histórias em quadrinhos, etc.", explicou Diógenes Campos, em entrevista exclusiva ao Boletim do Acadêmico.


O evento pretende dar voz às diferentes culturas, expondo o pensamento dos africanos, dos latinos, dos asiáticos, do mundo árabe e dos países desenvolvidos sobre o planeta. "O AIPT se preocupa também com as regiões não habitadas, tais como as polares, principalmente a Antártica. Há uma atenção aos estudos geológicos desta região, pois a compreensão de como evolui este continente é importante para o futuro da Terra", afirmou Diógenes.


Dez temas prioritários


O AIPT trabalhará sobre dez tópicos científicos prioritários, que foram selecionados por vinte e três cientistas de diversos países, e sobre os quais pesquisadores estão sendo convidados a propor discussões:


. Águas subterrâneas

. Desastres naturais

. Terra e saúde

. Clima

. Recursos naturais e energia

. Megacidades

. Núcleo e crosta terrestre

. Oceanos

. Solos

. Terra e vida


Diógenes Campos assinalou que todos os assuntos têm grande importância, mas destaca as 'águas subterrâneas', devido à escassez; o 'clima', por causa dos efeitos naturais e influência humana e os 'recursos naturais e energia', já que a maioria destes recursos provém do reino mineral, sendo finitos.


Geociências na política e na educação.


Em relação à divulgação das Ciências da Terra, o objetivo principal é a conscientização não só do público como também dos governantes, políticos e tomadores de decisões sobre a relevância dos temas geocientíficos para a humanidade. Relacionada a este objetivo primeiro, existe a proposta de valorizar as geociências no sistema educacional nacional.


"No Brasil, temos um grande problema: as Ciências da Terra não são ensinadas como uma disciplina no curso escolar fundamental. Assuntos envolvendo subsolo não são estudados de forma completa e detalhada e os alunos formados não têm idéia de como se comportam os terremotos, como ocorrem as tsunamis ou como funcionam as placas tectônicas. Hoje, isso é dado muito superficialmente", explicou Diogenes.


Segundo o geólogo, o conhecimento sobre o interior da Terra e sobre os processos que lá ocorrem, provocando terremotos e vulcões, podem contribuir para a mitigação dos efeitos dos desastres naturais e até dos resultantes da intervenção humana. Sobre os impactos sofridos pelos diferentes países com a degradação do planeta, Diógenes considera que os países desenvolvidos estão mais protegidos, pois têm tecnologia mais eficiente em sistema de alerta. "Mas o controle também pode falhar, como foi o caso do furacão em Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005", lembrou o Acadêmico.


Apoio ao AIPT no Brasil


O AIPT está sendo conduzido com apoio do governo, de algumas instituições de pesquisas e ONGs. O Acadêmico elogiou o engajamento do Brasil, mas destacou que ainda não há um apoio financeiro efetivo. Estão envolvidos o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o Ministério de Minas e Energia (MME), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBP), além das Sociedades Brasileira de Geologia (SBGeo), de Geoquímica (SBGq), de Paleontologia (SBP), de Geofísica (SBGf), a Petrobras e o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM).


"O ministro de C&T, Sergio Rezende, tem demonstrado interesse em apoiar. A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2007, promovida anualmente em outubro pelo MCT, terá inclusive como tema o Planeta Terra, o que contribuirá para a visibilidade do tema. Há, ainda, um compromisso do MME e da Casa Civil em participar mais efetivamente", informou Diógenes Campos. (Clara Gondin e Elisa Oswaldo-Cruz para o Boletim do Acadêmico) .


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