domingo, 23 de setembro de 2007

Vênus atinge seu brilho máximo no domingo


Imagem da sonda Messenger mostra o planeta Vênus de perto, com sua densa cobertura de nuvens (Foto: Nasa)




Ronaldo Rogério de Freitas Mourão


O planeta estará 19 vezes mais brilhante que Sírius, estrela mais luminosa do céu noturno. Astrônomo revela histórias inspiradas por esse astro através da história

No fim de semana, enquanto o nosso satélite caminha para a Lua cheia, aonde chegará no próximo dia 26 de setembro, poderemos observar vários planetas que estão bem visíveis no fim da noite, antes de nascer do Sol. A maior atração cósmica será o planeta Vênus, que na madrugada do domingo de 23 de setembro vai alcança seu máximo brilho, ou seja, 19 vezes mais luminoso que Sirius –- a estrela mais brilhante do céu.

Um pouco mais acima poderemos encontrar Marte, o planeta do deus da guerra, com sua tonalidade vermelha e um brilho de magnitude -0,6 -- será astro fácil de ser identificado por estar muito próximo de Vênus, na constelação do Touro. Surgindo junto ao horizonte, encontra-se o planeta Saturno, o planeta dos anéis, na constelação do Leão. Vênus, além de ter servido à inspiração dos poetas, é o planeta mais conhecido do povo, com diversas denominações, tais como Estrela da Manhã, quando é visto antes do nascer do Sol, e Estrela da Tarde, quando observado logo após o pôr do Sol.

Quando Vênus passa por um período de máximo brilho, é possível observá-lo a olho nu, em dias claros, sem nebulosidade, até mesmo ao meio-dia. Em outros tempos, considerou-se esse fenômeno como extraordinário. Desde as mais remotas eras, conhecem-se inúmeros casos em que a visibilidade diurna de Vênus produziu grande alarde. Não se costumava, de modo algum, supor nessa época que um brilho particular do planeta estivesse ocorrendo. Ao contrário, formava-se um grande escândalo e, na maioria dos casos, os povos supersticiosos consideravam o fenômeno como um sinal de presságio de inúmeras desgraças.

Tomando-se as necessárias precauções, principalmente afastando a vista da luz solar direta, não é difícil encontrar Vênus, a olho nu, durante o seu período de máxima intensidade luminosa, a qualquer hora do dia. Naturalmente se as condições atmosféricas forem favoráveis. A curva de luz de Vênus mostra um brilho máximo entre a conjunção inferior e a maior elongação Este e Oeste do planeta. A determinação prévia da época do maior brilho foi um problema muito estudado e existe uma extensa literatura.

Em suas pesquisas através da sensação geral despertada pela visibilidade de Vênus, em dias claros, o astrônomo inglês Edmond Halley, em 1716, estudou o problema matematicamente de modo a solucioná-lo, como aliás o fez. Resultados análogos foram obtidos por Euler, Lalande, Delambre etc. Até hoje emprega-se a fórmula de Halley e Euler para prever o brilho máximo de Vênus. Segundo Halley, o maior brilho produz-se, aproximadamente, 36 dias antes ou depois da conjunção inferior. O interesse foi tão grande em determinada época que se chegou a construir um pequeno aparelho para prevê-lo. Realmente, na sua qualidade de planeta inferior, isto é, situado entre a Terra e o Sol, Vênus nunca se afasta muito do astro do dia, sendo o afastamento angular máximo de Vênus ao Sol, visto da Terra, de cerca de 48°.

O máximo brilho de Vênus ocorre, aproximadamente, 36 dias antes ou depois da conjunção inferior, a uma distância angular de mais ou menos 38° a 39° do Sol; então, a sua fase é como a da Lua, cinco dias depois da conjunção. Portanto, Vênus é tão brilhante que pode ser visto a olho nu, em pleno dia, com a única condição de se saber para onde é necessário dirigir o olhar.

Os astrônomos caldeus lhe consagram, há mais de 4.000 anos, um dia da semana - dito em latim, veneris dies, a sexta-feira. Associada à deusa da beleza e do amor desde as mais remotas épocas, a sua representação primitiva, de um círculo e um traço reto, parece simbolizar a vida e a fecundidade. A partir da Idade Média, ele passou a ser representado pelo símbolo de um espelho, que é o objeto característico da mulher vaidosa de sua beleza. Vênus, a popular estrela do pastor, possui diversas denominações: Sukra (o esplendor) ou Daitya-guru (o mestre do titã), na Índia; Vennou-he siri (o pássaro Vennou de Osíris) e Pnouter-ti (o deus da manhã), no Egito antigo; Phõsphóros (a estrela matutina) e Hísperos (a estrela vespertina), na Grécia. Homero dedicou-lhe alguns versos, na Ilíada, chamando Hísperos e Phõsphóros a Vênus como estrela vespertina e como estrela matutina, respectivamente. Pitágoras, três séculos antes de Cristo, afirmou serem esses dois astros um único, mas foram os sacerdotes egípcios os primeiros a descobrirem que Vênus, do mesmo modo que Mercúrio, girava em torno do Sol.


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Escreveu mais de 85 livros, entre outros, “Explicando a Teoria da Relatividade”, e administra a homepage http://www.ronaldomourao.com/.


É também consultor científico do Observatório Monoceros http://www.monoceros.xpg.com.br/

fonte: O Globo on line

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