sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
A ASTRONOMIA BRASILEIRA ESTÁ DE LUTO - Mais uma Estrela no Céu
Mais uma vez Urânia abre os braços para receber mais um de seus diletos filhos. A comunidade astronômica brasileira perdeu no último dia 17 de janeiro,2008,cerca das 18h00,em Fortaleza,Ce,aos 87 anos uma de suas figuras mais expressivas : Rubens de Azevedo , geógrafo,astrônomo,escritor,jornalista,artista plástico e poeta.
Nasceu em Fortaleza,Ce,no dia 30 de outubro de 1921,filho do pintor e poeta Otacílio de Azevedo. Ainda na infância e adolescência,um amigo costumava-lhe emprestar a coleção “Tesouros da Juventude” e a partir dele Rubens correu atrás de saber o que havia além das estrelas. Mais tarde,como ele dizia,por uma questão de pobreza,pois sua luneta era pouco potente,passou a observar e estudar a Lua.Foi o primeiro passo para reunir interessados e fundar em 1947,na casa do seu pai,em Fortaleza,a primeira associação criada no Brasil, a ‘Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia’,SBAA. No teto de sua casa construiu o Observatório Popular Flammarion onde realizou notáveis desenhos do cometa 1948 L. Em 1949 conheceu aquela que seria sua esposa e fiel companheira em todos os momentos,Jandira Carvalho de Azevedo,escritora,jornalista e poetisa. A ‘parceria’ Rubens e Jandira foi decisiva nas obras de ambos. Residiram em São Paulo,capital,Natal,RN,João Pessoa,Pb e voltaram a Fortaleza. Não tiveram filhos. Na capital paulista fundou a ‘Sociedade Brasileira de Selenografia’ e participava do circulo estreito de amadores que freqüentava o Observatório do Capricórnio,fundado por Jean Nicolini (1922-1991) em 1948. Foi uma época extremamente fértil para Rubens. É desta época os livros ‘Selene,a Lua ao Alcance de Todos’ (1959) e ‘Lua,Degrau para o Infinito’ (1962).Residindo em Natal,RN,junto a Associação Norte-Riograndense de Astronomia,ANRA,foi juntamente com o Dr. Antonio Soares Filho,a mola mestra para a realização do IV Congresso da Liga Latino Americana de Astronomia. O brilhantismo e os meios colocados à disposição pelo Governador do Estado,W.Gurgel foi de tal envergadura que nunca mais se viu coisa parecida no País. Em 1969 em João Pessoa,Pb, face a sua notória e reconhecida experiência,por indicação do Dr. Ronaldo R.F.Mourão do Observatório Nacional,CNPq-MCT, foi indicado para fazer parte da equipe inicial de cinco astrônomos que iria colaborar com observações no projeto Apollo da NASA-JPL,denominado ‘Lunar International Observers Network’,Rêde Internacional de Observadores da Lua. Do programa de observação constavam os chamados TLP’s, ‘Lunar Transiente Phenomena’, Fenômenos Transitórios Lunares. Posteriormente várias instituições viram-se ligadas ao programa dos TLPs,após extensiva orientação. Durante o programa,Rubens realizou uma importante constatação de aumento de brilho incomum na cratera Aristarco. A presença de Rubens em João Pessoa propiciou a construção do Observatório da Fundação Padre Ibiapina,fator decisivo para mais tarde o CEDATE-MEC doar um Planetário Carl Zeiss ‘Spacemaster’ para esta capital. De volta a terra natal,juntamente com o prof. Demerval Carneiro Neto,amigo e companheiro,incentivou a ciência do céu a tal ponto de sensibilizar dois importantes colégios,Cristhus e Sete de Setembro, a promoverem cursos regulares de astronomia e erigirem excelentes observatórios em suas unidades. Não somente a SBAA como também a UBA, União Brasileira de Astronomia, experimentou um grande progresso sob a atuação de Rubens de Azevedo. Devido a seus artigos,persistência, contatos feitos com o prefeito de Fortaleza, o Governador do Estado e no meio científico e cultural,é inaugurado no dia 26 de fevereiro de 1997 no ‘Instituto Cultural Dragão do Mar’ na Paia de Iracema,o ‘Planetário Rubens de Azevedo’ com um projetor Carl Zeiss modelo ZKP-3 no valor de 1,2 milhões de dólares. O nome dado por proposição do prof. Demerval a uma pessoa ainda viva,fato incomum,é um eloqüente atestado do conceito e admiração não só do cearense mas de toda a comunidade astronômica nacional a uma gigante da ciência do céu em nosso País. Em 1962 escreveu ‘Na Era da Astronáutica’,em 1969 ‘No Mundo da Estelândia’,em 1985 ‘O Cometa Halley’,em 1988 ‘A Bandeira Nacional’,em 1989 ‘O Homem descobre o Mundo’ e em 1996 ‘Memórias de um Caçador de Estrelas’ (autobiografia) Ilustre no meio científico,Rubens fez pela astronomia brasileira muito mais que poucos imaginam. Quando se trata de nosso satélite natural,seu nome está indelevelmente ligado na bibliografia astronômica. Seu nome consta do ‘Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica’ 2ª edição da Editora Nova Fronteira de Ronaldo R.F.Mourão por sinal,um de seus admiradores.
De temperamento alegre e jovial os que conviveram com ele guardam para sempre momentos inesquecíveis. Desde o falecimento da esposa,’O Maior Amor’ como intitulou em um dos capítulos de sua autobiografia,sua saúde começou a declinar sensivelmente. Nesta hora que sentimo-nos duramente atingidos por tão grande perda,reconforta-nos saber que ele agora está ao lado de D. Jandira passeando entre os astros do universo que ele tanto amou. Numa homenagem ao ilustre amigo e colega, o roll-off do Observatório Astronômico de Piracicaba,SP, passará doravante a denominar-se “Pavilhão de Observações Rubens de Azevedo”.
Nelson Travnik – astrônomo dos observatórios municipais de Americana e Piracicaba,SP.
Permitida a reprodução desse texto para todos os órgãos de comunicação,observatórios,planetários ,clubes e associações de astronomia do País e exterior.
posted by Lucimary Vargas
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