Especialistas ouvidos pelo G1 já esperam prêmio para os norte-americanos. Cientistas brasileiros tentar dar continuidade às pesquisas do trio.
 Brian Schmidt, americano radicado na Austrália,  um dos vencedores do  Nobel de física em 2011.(Foto: Belinda Pratten / Reuters)
Brian Schmidt, americano radicado na Austrália,  um dos vencedores do  Nobel de física em 2011.(Foto: Belinda Pratten / Reuters)Mário Barra Do  G1, em São Paulo - Os astrônomos não recebiam um Nobel há 5 anos. Quando o comitê da premiação  finalmente lembrou das pesquisas no espaço durante o  anúncio dos vencedores na categoria de física nesta terça-feira (4), a  homenagem foi para três cientistas que inverteram a "velocidade" do movimento do  Universo.
Ao invés de se expandir cada vez mais lentamente, o trio norte-americano  desvendou que o cosmo, na verdade, aumenta mais e mais rápido.
Para cientistas consultados pelo G1, as pesquisas mudaram a  ideia que existia sobre o Universo. O impacto foi tão grande que era apenas  questão de tempo até os três norte-americanos serem lembrados pela Fundação  Nobel.
"Esse prêmio era bem esperado, levaram aqueles que mostraram as primeiras  evidências fortes de que o Universo estava acelerando sua expansão", afirma  Eduardo Cypriano, astrônomo da Universidade de São Paulo (USP). "O trabalho é de  muitas mãos, mas os três são os líderes desses grupos de pesquisa e já haviam  recebido homenagens antes do Nobel."
Saul Perlmutter, Brian Schmidt e Adam Riess usaram o brilho de explosões de  estrelas com muita massa (supernovas) para estudar como o Universo se comporta.  Como são fenômenos muito intensos e luminosos, as supernovas conseguem ser  detectadas mesmo a grandes distâncias - tão compridas que um raio de luz  demoraria 6 bilhões de anos para atravessá-las.
"Foi um modelo muito confiável para mostrar que o Universo estava se  expandindo de forma acelerada", diz Cypriano. "Hoje a gente vê algumas  limitações para os estudos com esses astros, mas essas pesquisas que o Nobel  premiou, feitas na década de 1990, foram as pioneiras."
Paradigma
Antes das observações do trio, os astrônomos acreditavam que a expansão do Universo existia, mas estava ficando cada vez mais lerda. Isso porque eles achavam o espaço era feito apenas por matéria comum - feita de átomos e que forma os objetos e seres que vemos todos os dias.
Antes das observações do trio, os astrônomos acreditavam que a expansão do Universo existia, mas estava ficando cada vez mais lerda. Isso porque eles achavam o espaço era feito apenas por matéria comum - feita de átomos e que forma os objetos e seres que vemos todos os dias.
"Sempre se pensou em um cosmo só com a matéria que conhecemos", diz Antônio  Guimarães, cosmólogo do Instituto de Astrofísica, também na USP. Mas ao se  voltar para as supernovas, o trio premiado pelo Nobel encontrou astros com menos  brilho do que seria previsto caso o Universo se expandisse devagar. "As  supernovas estavam a uma distância maior do que deveriam e por isso a luz delas  era mais fraca", diz o especialista.
O astrofísico Saul Perlmutter, um dos vencedores do prêmio Nobel de  física deste ano, não ganhou 'apenas' a premiação equivalente a R$ 2,7 milhões.  Ele exibiu na tarde desta terça-feira (4), horas após o anúncio do Nobel, um  certificado que garante acesso (Foto: Beck Diefenbach/Reuters) 
Daí os cosmólogos tiraram a ideia que o Universo estava crescendo em ritmo  acelerado. O problema é que se somente existisse matéria comum, isso não seria  possível, pois a atração da gravidade retardadia a rapidez da expansão. "Essas  pesquisas mudaram o paradigma que existia, elas provaram que as supernovas  estavam mais longe do que se pensava e que o Universo se expande cada vez mais  rápido", explica Guimarães.
A solução foi encontrar algo a mais para explicar um cosmo com pressa para  crescer. Foi aí que os astrônomos surgiram com a ideia da energia escura - algo  diferente da matéria, que os especialistas acreditam que seja responsável pela  expansão e ocupe 73% do Universo. "Nós não sabemos do que ela é feita, essa é a  grande questão aberta na física hoje. É a principal linha de pesquisa  atualmente, além da caça a planetas fora do Sistema Solar", diz o cosmólogo.
O erro de Einstein
Outro vencedor do prêmio Nobel, em 1921, Albert Einstein é idolatrado no mundo científico pois definiu as bases da física usada atualmente. Mas ele levou certo tempo para admitir um erro nos seus cálculos: o universo não era estático, ele crescia com a passagem do tempo.
Outro vencedor do prêmio Nobel, em 1921, Albert Einstein é idolatrado no mundo científico pois definiu as bases da física usada atualmente. Mas ele levou certo tempo para admitir um erro nos seus cálculos: o universo não era estático, ele crescia com a passagem do tempo.
 Adam Riess vai dividir o prêmio de R$ 2,7 milhões com o colega  Schmidt. (Foto: Don Blake / Reuters)
Adam Riess vai dividir o prêmio de R$ 2,7 milhões com o colega  Schmidt. (Foto: Don Blake / Reuters)As próprias equações da teoria da relatividade geral, publicadas em 1915,  concordavam. Para que fossem válidas, o Universo deveria estar se expandindo ou  em redução.
Para salvar a ideia de um Cosmo "parado", Einstein tentou melhorar suas  equações. Ele usou um recurso matemático para que a sua teoria continuasse  válida. O termo ficou conhecido como constante cosmológica.
Na década de 1920, com os trabalhos de cientistas como o norte-americano  Edwin Hubble, a expansão do Universo ficou provada e Einstein acabou  considerando a constante cosmológica como algo inútil. E assim pensaram os  cientistas durante muito tempo, até que as pesquisas sobre o crescimento do  Cosmo mostraram uma possível aplicação para o "erro de Einstein".
"A constante se tornou o primeiro candidato à energia escura, justamente  aquela que os cientistas acreditam ser a responsável pela aceleração da expansão  do Universo", explica Jailson Alcaniz, pesquisador do Observatório Nacional, no  Rio de Janeiro.
Outra opção
Ainda mais grave para o legado de Einstein - morto em 1955 - seria se sua teoria sobre a gravidade inteira fosse negada pelos estudos no futuro. Essa opção existe e há pesquisadores que trabalham com modelos para explicar o Universo que não utilizam a ideia de energia escura e julgam as equações do gênio alemão erradas.
Ainda mais grave para o legado de Einstein - morto em 1955 - seria se sua teoria sobre a gravidade inteira fosse negada pelos estudos no futuro. Essa opção existe e há pesquisadores que trabalham com modelos para explicar o Universo que não utilizam a ideia de energia escura e julgam as equações do gênio alemão erradas.
"Se isso for verdade, uma outra teoria teria de substituir a relatividade  geral de Einstein", diz Alcaniz. "Existem várias candidatas como, por exemplo, a  existência de dimensões extras no cosmo, que poderiam causar a expansão do  Universo", diz Alcaniz. Mas o especialista não acredita que seja tão fácil  descartar a relatividade. "Ela explica bem para explicar as coisas no Sistema  Solar."
Essas pesquisas mudaram o paradigma que existia, elas provaram  que as supernovas estavam mais longe do que se pensava e que o Universo se  expande cada vez mais rápido" Antonio Guimarães, cosmólogo da USP
Alguma luz na energia escura
O Brasil participa ativamente de pesquisas sobre a expansão do Universo e a busca pelo o que poderia motivar esse movimento.
O Brasil participa ativamente de pesquisas sobre a expansão do Universo e a busca pelo o que poderia motivar esse movimento.
"A nossa esperança é jogar alguma luz na energia escura", diz Laerte Sodré  Jr, cientista da USP e ligado a diversos projetos brasileiros com universidades  no exterior para investigar a natureza e a própria existência da principal  candidata a "culpada" pela expansão acelerada do Universo.
No passado, conceitos como o geocentrismo (a Terra como centro do Sistema  Solar) e o éter luminífero (um espaço que precisaria existir para que as ondas  de luz pudessem prosseguir) foram derrubados, mesmo com muitos cientistas  conduzindo experimentos para salvá-los.
Seria este o mesmo caso da energia escura - algo que ninguém provou que  existe e tão diferente da energia e da matéria comuns? Sodré Jr. acredita que  não. "O que nós sabemos hoje na cosmologia é que energia e matéria escura  dominam o Universo", diz o astrônomo. "No momento, todos os dados que nós temos  apontam para a validade da relatividade de Einstein e, a partir dessa teoria, a  hipótese da energia escura é a mais aceita atualmente."
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