Acredito que todo  problema tem a hora "certa" de ser tratado. Se nas nossas primeiras investidas  espaciais ficássemos preocupados em não deixarmos partes de foguetes; satélites  já inoperantes; peças; resíduos; ferramentas; etc., vagando "soltos" no espaço;  certamente o nosso desenvolvimento astronáutico teria sido bem mais  lento.
Hoje, várias décadas após o Sputnik, a situação é muito diferente.  Por um lado, esses "dejetos" (ou "lixo") gravitando em torno de nosso planeta já  são em tão grande número (e o numero deles cresce cada vez mais) que têm  ameaçado a segurança de nossos astronautas; naves; satélites; etc.; e em alguns  casos, já têm até ameaçado a nossa segurança em terra. Por outro lado, o nosso  conhecimento astronáutico chegou a um nível que nos permite investir na procura  de soluções práticas e economicamente viáveis para o problema, sem determos  nosso desbravamento espacial.
Mês passado um satélite norte americano  desgovernado (usado para espionagem) foi destruído por um míssil, felizmente com  "sucesso", antes que caísse sobre alguma região de nosso planeta. Esse satélite  estava carregado com hidrazina, elemento altamente tóxico. A queda desse  satélite em área habitada poderia levar a um número incalculável de  mortes.
Em março de 2001 a estação espacial russa Mir, de 120 toneladas,  voltou ao nosso planeta em uma queda controlada. Várias partes, algumas com  várias toneladas, caíram no Oceano Pacífico Sul, a leste da Nova Zelândia — área  essa designada por tratados internacionais como nosso "lixão" espacial.
O  "lixo espacial" que mais deixou os cientistas apreensivos foi, sem dúvida  alguma, a estação espacial norte americana Skylab, de 69 toneladas, que em julho  de 1979 caiu quase que totalmente descontrolada na Terra. Várias de suas partes  atingiram o oeste da Austrália e o Oceano Índico. Cerca de quatro anos antes, um  estágio de 38 toneladas do foguete Saturno II, que lançou a Skylab, já havia  causado apreensão ao cair, também descontroladamente, no Oceano Atlântico, ao  sul dos Açores.
Em janeiro de 1979 um satélite militar soviético (Cosmos  954) portando um pequeno reator nuclear ficou descontrolado, vindo a cair no  Canadá; felizmente em área desabitada. O serviço de inteligência norte americano  chegou a lançar um alarme atômico para os paises ocidentais.
Na madrugada  de 11 de março de 1978 partes de um foguete soviético reentraram na atmosfera  acima da cidade do Rio de Janeiro e caíram no Oceano Atlântico. Foi um belo  espetáculo. Inúmeros fragmentos, entrando em ignição devido ao atrito com a  atmosfera, brilharam intensamente, enquanto "cortavam o céu". Se a reentrada  tivesse acontecido alguns minutos depois, entretanto, teríamos uma tragédia,  pois a queda seria na área urbana do Rio e não no oceano.
Casos como  esses em que temos nossas vidas ameaçadas por lixo espacial, aqui, na superfície  de nosso planeta, por enquanto ainda são poucos. Entretanto esses corpos,  ameaçando nossos satélites, também ameaçam nossas pesquisas; comunicações;  informação; economia; etc.; e essa ameaça é diária.
Os números não são  precisos, mas segundo levantamento efetuado pela NASA (Agência Espacial Norte  Americana), calcula-se que existam por volta de 3,5 milhões de resíduos  metálicos; lascas de pintura; plásticos; etc., com dimensões inferiores a um  centímetro, orbitando nosso planeta. Objetos entre um e dez centímetros, nessas  mesmas condições, devem ser cerca de 17,5 mil; e sete mil com tamanhos maiores  que dez centímetros. No total, devemos ter mais de três mil toneladas de lixo  espacial orbitando nosso planeta a menos de 200 km de altitude. 
Até  mesmo partículas ínfimas como pequeníssimas lascas de pintura, podem danificar  irremediavelmente uma nave ou um satélite ou mesmo matar um astronauta devido às  altíssimas velocidades que adquirem. A velocidade média desses dejetos é da  ordem de 25 mil km/h.
O acidente espacial mais grave até hoje registrado  aconteceu em julho de 1996. Um satélite militar francês (Cerise) foi atingido  por um fragmento de um foguete também francês (Ariane) que dez anos antes havia  explodido no espaço. O satélite se desestabilizou, vindo a cair, felizmente de  forma controlada, em nosso planeta. 
Algumas ações (por enquanto ainda tímidas) têm  sido realizadas para se enfrentar o problema do lixo espacial. Em fevereiro de  2007, a ONU deu um passo importante nesse sentido, aprovando as "Diretrizes para  a Redução dos Dejetos Espaciais", em reunião do Sub-comitê Técnico-Científico do  Comitê da ONU para o Uso Pacífico do Espaço (COPUOS).
Tais diretrizes,  entretanto, não têm sido seguidas. Em julho passado, por exemplo, fiquei pasmo  ao receber a notícia, documentada fotograficamente: Os astronautas Clay Anderson  e Fyodor Yurchikhin, "limpando" a Estação Espacial Internacional, descartaram no  espaço um tanque de amônia de 636 kg.  
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  Renato Las Casas é professor do Departamento de Física do  Instituto de Ciências Exatas e Coordenador do Grupo de Astronomia da  UFMG Leia outros artigos de  astronomiaLeia artigos sobre saúde, comportamento, tecnologia e meio  ambiente   
 Arquivo UFMG
 
 
March 10th, 2008 at 3:49 pm "Guedes and his co-author Gregory Laughlin…"
Minor point, but it's pretty likely that with the name "Javiera," Guedes is a woman.