Pesquisadores da USP identificam a mais velha estrela gêmea do Sol
29/08/2013
Por Karina Toledo
Agência   FAPESP  Um grupo   internacional de astrônomos liderados por pesquisadores da Universidade de São   Paulo (USP) identificou na constelação de Capricórnio a mais velha estrela gêmea   do Sol já conhecida: a HIP 102152.
Além   de dar pistas sobre como a nossa estrela vai ficar quando envelhecer, o trabalho   mostrou que há uma forte correlação entre o teor de lítio existente nesse tipo   de astro e sua idade, ajudando a solucionar um velho mistério da astronomia.
A   HIP 102152 está situada a 250 anos-luz da Terra e tem idade estimada em 8,2   bilhões de anos  quase o dobro do Sol, que tem 4,6 bilhões de anos. Para   observá-la, a equipe  que conta com cientistas dos Estados Unidos, da   Austrália, da Alemanha, do Reino Unido e de Portugal, além dos brasileiros    utilizou o Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (ESO),   localizado no norte do Chile.
Parte   do trabalho foi realizada durante o pós-doutorado de TalaWanda Rose Monroe, no   Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP,   com apoio da FAPESP. Os resultados já estão disponíveis na versão on-line da revista Astrophysical Journal   Letters.
"Como   a existência humana é curta demais para estudar a evolução do Sol, uma das   formas de fazer isso é observar estrelas similares em diferentes fases de   evolução. Esta estrela HIP 102152 nos dá uma oportunidade sem precedentes de   saber como o Sol será daqui a 4 bilhões de anos", disse Monroe em uma entrevista   coletiva convocada pelo IAG no dia 28 de agosto para anunciar as   descobertas.
A   pesquisadora explicou que as gêmeas solares são estrelas muito raras, que   possuem massa, gravidade, temperatura e composição química muito semelhantes às   do Sol. Para analisar as propriedades da HIP 102152 e de outra gêmea solar mais   jovem  a 18 Scorpii, cuja idade foi estimada em 2,9 bilhões de anos , a equipe   usou o espectrógrafo UVES, que pertence ao ESO.
"A   espectroscopia é uma técnica poderosa que permite quebrar a luz da estrela nas   diversas cores que a compõem. Isso nos permite observar com detalhes os   elementos químicos que estão presentes na atmosfera estelar, assim como inferir   sua massa, idade e metalicidade", explicou Monroe.
Segundo   Jorge Luis Meléndez Moreno, que supervisionou a pesquisa de Monroe no IAG, o   resultado das análises revela que, assim como o Sol, a HIP 102152 tem uma   composição química que permite a formação de planetas rochosos em torno   dela.
"Pesquisas   anteriores mostraram que no Sol, quando comparado a estrelas similares, há   deficiência de elementos químicos que são abundantes em meteoritos, asteroides e   em planetas rochosos como a Terra, Marte e Mercúrio. Esse material faltante no   Sol provavelmente foi empregado na formação dos planetas terrestres do   nosso sistema solar. Como a HIP 102152 tem esse mesmo padrão de deficiência de   elementos, há forte possibilidade de ela ter também originado planetas como a   Terra", explicou Meléndez.
De   acordo com o pesquisador, desde 2011 pesquisas vêm sendo conduzidas no   Observatório Europeu Austral em busca desses planetas rochosos, mas nenhum foi   encontrado até o momento orbitando a HIP 102152.
"Isso   é bom, pois os planetas mais fáceis de serem encontrados são os gigantes   gasosos, como Júpiter. E, se um planeta desse tipo existisse nas regiões mais   internas da órbita da estrela, a chamada zona habitável, ele desestabilizaria   completamente a órbita de um provável planeta rochoso", disse Meléndez.
No   entanto, ponderou o pesquisador, encontrar planetas rochosos com massa tão   pequena quanto à da Terra não seria possível com os equipamentos hoje   existentes.
"Vamos   continuar procurando esses planetas até 2015, mas conseguiremos apenas detectar   superterras, ou seja, planetas com massa cinco ou dez vezes maior que a nossa.   Mas também pretendemos procurar gêmeos da Terra no futuro, com o auxílio de   novos instrumentos mais precisos que estão sendo desenvolvidos no ESO, caso a   entrada do Brasil no Observatório seja confirmada pelo congresso",   contou.
Mistério   solucionado
O   estudo coordenado por Monroe também ajudou a compreender um antigo mistério que   intriga os astrônomos há cerca de 60 anos: por que algumas estrelas têm teores   maiores de lítio que outras e, principalmente, por que o teor de lítio do Sol é   tão menor que a maioria das gêmeas solares já detectadas.
"O   estudo de meteoritos revelou que a quantidade de lítio presente no Sol quando o   Sistema Solar estava em formação era cerca de 160 vezes maior. Ninguém   sabia explicar ao certo o que tinha acontecido com esse elemento. É um mistério   na teoria clássica de evolução estelar", disse Meléndez.
Na   HIP 102152, por outro lado, o volume de lítio encontrado foi ainda menor que o   do Sol. Já a 18 Scorpii, mais jovem, apresentou teores mais altos que os da   nossa estrela. De acordo com a equipe da USP, esses resultados indicam   que, à medida que a estrela envelhece, o teor de lítio diminui.
"Esse   achado é muito importante não só porque permite usar esse elemento químico para   determinar a idade da estrela como também porque acrescenta novos ingredientes   ao modelo de como evoluem as estrelas. Pode ajudar os astrofísicos a entenderem   os mecanismos que permitem o transporte do lítio de regiões mais externas   do astro para as mais internas, onde será então destruído", disse Meléndez.
A   primeira gêmea solar foi encontrada em 1997 e, desde então, poucas outras   estrelas do gênero foram identificadas.
O   artigo High precision   abundances of the old solar twin hip 102152: Insights on li depletion from the   oldest sun (doi: 10.1088/2041-8205/774/2/L32) pode ser lido em 
 

 
 

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