Imagem ilustrada do European Southern Observatory (Foto: BBC)
Nós todos já vimos filmes em que asteróides se movem rapidamente em direção à Terra, ameaçando sua civilização.
Mas o que é menos conhecido é que às vezes essas rochas espaciais ameaçadoras se movimentam em pares.
Pesquisadores delinearam algumas das melhores evidências até hoje de um
impacto duplo, em que um asteroide e sua lua aparentemente atingiram a
Terra um atrás do outro.
Usando minúsculos fósseis de plâncton, eles estabeleceram que crateras
vizinhas na Suécia são da mesma idade - 458 milhões de anos de idade.
No entanto, outros cientistas alertaram que crateras aparentemente
contemporâneas poderiam ter sido formada com semanas, meses ou mesmo
anos de intervalo.
Detalhes do trabalho foram apresentados na 45ª Conferência de Ciência
Lunar e Planetária em Woodlands, no Texas, e os resultados devem ser
divulgados na publicação científica Meteoritics and Planetary Science
Journal
.
As crateras Clearwater no Canadá também devem
ter sido formadas por um impacto duplo
Foto Nasa (Foto: BBC)
Lockne e Malingen
Segundo Jens Ormo, pesquisador do Centro de Astrobiologia de Madri, na
Espanha, um punhado de possíveis impactos duplos na Terra já são
conhecidos, mas há divergências sobre a precisão das datas atribuídas a
estas crateras.
'Crateras de impacto duplo devem ser da mesma idade, caso contrário,
poderiam ser apenas duas crateras localizadas uma ao lado da outra',
Ormo e seus colegas estudaram duas crateras chamadas Lockne e Malingen,
que se encontram cerca de 16 quilômetros de distância uma da outra no
norte da Suécia. Medindo cerca de 7,5 km de largura, Lockne é a maior
das duas estruturas. Malingen, localizada mais ao sudoeste, é cerca de
10 vezes menor.
Acredita-se que os asteroides binários são formados quando um asteroide
formado por um grande grupo de rochas começa a girar tão rápido sob a
influência da luz solar que uma pedra solta é jogada para fora do seu
eixo e forma uma pequena lua.
Observações feitas com telescópio sugerem que cerca de 15% dos
asteroides próximos da Terra são binários, mas é provável que a
porcentagem de crateras formadas por impacto na Terra seja menor.
Apenas uma fração dos binários que atingem a Terra terá a separação
necessária entre o asteroide e sua lua para produzir crateras separadas
(aqueles que estão muito próximos a suas luas formarão estruturas
sobrepostas).
Os cálculos sugerem que cerca de 3% de crateras formadas por impacto na
Terra devem ser duplas - um número que está de acordo com o número já
identificado pelos pesquisadores.
As características geológicas pouco comuns tanto de Lockne como de
Malingen são conhecidas desde a primeira metade do século 20. Mas foi
apenas nos anos 1990 que Lockne foi reconhecida como uma cratera formada
por um impacto.
Nos últimos anos, Ormo perfurou cerca de 145 metros na cratera
Malingen, passando pelo sedimento que a preenche, por pedra britada,
conhecida como brechas, e atingindo a pedra intacta no fundo.
Análises das brechas revelaram a presença de uma forma do mineral
quartzo, que é criado sob pressões intensas e está associado com o
impacto de asteróides.
Esta área era coberta por um mar raso no momento do impacto que formou
Lockne, então sedimentos marinhos teriam preenchido imediatamente
qualquer cratera formada por impacto no local.
A equipe de Ormo estabelecida para datar a estrutura Malingen usou
minúsculos animais marinhos fossilizados chamados chitinozoas, que são
encontrados em rochas sedimentares no local.
Eles usaram um método conhecido como biostratigrafia, que permite que
geólogos atribuam idades relativas a rochas com base nos tipos de
criaturas fósseis encontradas dentro delas.
Os resultados revelaram que a estrutura Malingen era da mesma idade que
Lockne - cerca de 458 milhões anos de idade. Isto parece confirmar que a
área foi atingida por um impacto duplo de asteroides durante o período
Ordoviciano, da era Paleozoica.
Evidências convincentes
Gareth Collins, que estuda crateras formadas por impacto no Imperial
College de Londres, e não estava envolvido na pesquisa, disse à BBC:
'Com falta de testemunha dos impactos, é impossível provar que duas
crateras próximas foram formadas simultaneamente.'
'Mas a evidência neste caso é muito convincente. Sua proximidade no
espaço e estimativas consistentes de idade tornam bastante provável um
impacto binário.'
As simulações sugerem que o asteróide que criou a cratera de Lockne
tinha cerca de 600 m de diâmetro, enquanto o que esculpiu Malingen tinha
cerca de 250m. Estas medições são um pouco maiores do que pode ser
sugerido pelas suas crateras por causa dos mecanismos de impactos em
ambientes marinhos.
Ormo acrescentou que a distância entre Malingen e Lockne está de acordo
com a teoria de que elas teriam sido criadas por um binário. Como
mencionado, se duas rochas espaciais estão muito próximas, suas crateras
se sobrepõem. Mas para se qualificar como uma dupla, as crateras não
podem estar muito longe, porque elas vão exceder a distância máxima em
que um asteróide e sua lua podem ficar vinculados por forças
gravitacionais.
'O asteroide formador de Lockne era grande o suficiente para gerar uma
abertura na atmosfera acima do local de impacto', disse Ormo.
Isso pode fazer com que o material do asteroide se espalhe ao redor do
globo, como aconteceu durante o enorme impacto que formou a cratera de
Chicxulub, que muitos acreditam ter matado os dinossauros, há 66 milhões
de anos.
O evento ordoviciano não foi potente o suficiente para que o material
fosse espalhado, já que teria sido muito diluído na atmosfera. Mas o
impacto pode ter tido efeitos locais, como por exemplo, ter vaporizado
instantaneamente qualquer criatura do mar que estivesse nadando nas
proximidades.
Outros crateras que podem ter sido formadas por um impacto duplo
incluem Clearwater Ocidental e Oriental em Quebec, Canadá; Kamensk e
Gusev no sul da Rússia, e Ries e Stenheim no sul da Alemanha.