sábado, 4 de abril de 2009

Está velho, mas não está morto!

Postado por Cássio Barbosa em 02 de março de 2009 às 15:52

Pulsares são estrelas de nêutrons que, por sua rotação, são detectados através de sua emissão de rádio, ou raios X, em forma pulsada e periódica. Quando foram descobertos na década de 1960, os pulsares causaram alvoroço. O que poderia causar pulsos periódicos desta maneira? O período destes sinais era absurdamente preciso (1,3373 segundos) e rapidamente seus descobridores imaginaram que esse tipo de objeto poderia ser um artefato construído por uma civilização extraterrena inteligente. Esse primeiro objeto foi batizado de LGM-1, de Little Green Men (homenzinhos verdes, em inglês). Algumas pessoas imaginavam que esse tipo de objeto seria largado pela galáxia com a intenção de orientar naves espaciais. Funcionariam como os faróis de navegação.
Em pouco tempo, estes objetos misteriosos foram desvendados e não passam dos estágios finais de evolução estelar. Uma estrela com mais massa do que o Sol explode como uma supernova e seu núcleo colapsa em uma estrela de altíssima densidade e raio de poucos quilômetros: uma estrela de nêutrons. E assim chegamos ao PSR J0108-1431 – J0108, para os íntimos.
J0108 é um dos pulsares mais próximos conhecidos (está a uns 770 anos-luz daqui), mas o que chama a atenção nele é sua idade: 200 milhões de anos. A explosão que o originou ocorreu quando a Terra era dominada por dinossauros, bem no início do período Jurássico. E, a essa distância, deve ter sido um espetáculo e tanto no céu. A idade de um pulsar pode ser calculada medindo-se seu período. Apesar de sua precisão, ele costuma aumentar – no caso dos pulsares isolados, pelo menos. Existem outros pulsares que formam pares com outros objetos, e esses acabam acelerando. Medindo esse freamento na rotação de pulsares (que ocorre porque o pulsar perde energia) é só fazer uma conta simples que chegaremos ao valor inicial do seu período.
O jurássico (desculpe, não resisti) J0108 hoje pulsa com quase um segundo de período, e o que impressiona é que ele tem muito mais energia do que seus primos mais jovens. Os pulsares perdem energia conforme emitem raios X, mas o J0108 parece fazer isso de maneira muito mais eficiente, "guardando" energia para o futuro. Dois mecanismos diferentes devem estar envolvidos nessa produção de raios X: partículas carregadas espiralando no campo magnético da estrela e regiões aquecidas perto dos polos, conforme a figura neste post.
Outro aspecto interessante desse vovô ativo é sua mobilidade. Imagens de telescópios ópticos mostram que ele se move a uma velocidade de 700 mil quilômetros por hora e, desde sua descoberta, já mudou sua posição no céu em relação a outros objetos. A combinação de imagens no lado esquerdo da figura mostra o pulsar e sua direção de movimento. Em sua primeira imagem em 2000, ele estava na posição do pequeno ponto azul acima da galáxia de fundo, essa pequena tripa alongada à direita de J0108.
Objetos como esse são raros e importantes, pois estão na fase final de suas vidas,
próximos da chamada "linha da morte de pulsares". No final de sua evolução, os
pulsares deixam de emitir radiação de forma pulsada e devem ficar difíceis, ou mesmo impossíveis, de ser detectados. E essa parte da teoria precisa de mais casos como o de J0108 para ser testada.

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Lucimary Vargas
Presidente
Observatório Monoceros
Além Paraíba-MG-Brasil
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